10 de junho de 2010

Visões de Andara por Valério Fiel da Costa




Sobre esta peça: concepção, ensaios e apresentação


Vicente Franz Cecim refere-se às suas publicações como parte do livro visível de Andara dando a entender que há ainda muitos, talvez infinitos, livros invisíveis a serem revelados. O autor operaria como um receptáculo de informações oriundas deste universo paralelo que poderia ser entendido, segundo o próprio autor, como uma Amazônia transfigurada em região-metáfora da vida em que o sobrenatural emerge em epifania. Dentro dessa região fantasma que é Andara, proliferam entidades-personagens curiosos como o Cego Dias (Os Jardins e a Noite – 1981) que passa a ver-ouvir as mensagens do vento depois de ser cegado pelo misterioso pássaro Curau ou como a desejada Caminá (Animais da Terra – 1980) ser alado vinculado a uma plantação de urtigas cuja cópula com a natureza faz nascer um deus vermelho. É a partir do dado dessa translúcida invisibilidade de onde emergem tais seres-situações visíveis de Andara que pretende-se operar na atual proposta de obra.

Visões de Andara: A idéia poética desta cena musical é a de criar um ambiente de imersão que represente não uma sequência de eventos de Andara, mas que possa transferir o ouvinte ao seus domínios fazendo-o experimentar o processo de emergência de situações mais ou menos palpável dentro de tal contexto. É como se o ouvinte estivesse dentro de um barco à deriva onde, a partir de determinado momento, toda a expectativa a respeito do que virá em seguida é esvaziada sendo o mesmo impelido a fundir-se ao contexto sonoro-visual entendido agora como dado concreto e inescapável. É dentro de tal transe que ocorrerão os eventos significativos que transportarão o ouvinte para as entranhas de Andara: sons característicos, imagens projetadas sobre o espaço, sons gravados, textos, que surgem aos balbucios, configurando-se aos poucos como coisa inteligível, até conseguirmos ver a região metáfora com os nossos próprios (novos) olhos. O livro de Andara tornando-se visível diante de nós.



Valério Fiel da Costa nasceu em Belterra, Pará, Amazônia. Doutor em composição pela Unicamp, fundador do grupo Artesanato Furioso. Representante brasileiro na Tribuna Internacional de Música Eletroacústica da Unesco. Professor de composição da UFPB.








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