Vicente Franz Cecim
Esta pergunta sempre retorna retornando sempre outras respostas.
Andara, o que ela parece mais querer, é o Advento de uma Literatura Fantasma. Fantasma como são os seres de Neblina que a percorrem. Mas ainda mais sutil que eles. Andara, os livros escritos, os livros visíveis de Andara, ainda pudessem ser lidos por quem assim quiser, ou não puder mais que isso, como Literatura Fantástica. Mas o Livro Invisível de Andara, aquele que não-é escrito, aquele que já é não-livro, esse: Isso, já é Literatura Fantasma. Literatura de Ausência. Está para a Literatura como os números trans-finitos de Georg Cantor, talvez eu pudesse comparar, que se iniciam ali, seja Onde isso for, onde os números finitos se acabam. Literatura Fantasma é Literatura de Ausência de Literatura. De Ausência até mesmo da Presença Rarefeita da Escritura, por mais rarefeita que ela seja. Está num além em nós. Nietzsche perguntando pela voz de Zaratustra: - O homem é coisa ultrapassável, o que fizeste para ultrapassar o homem, o que fizeste para atingir o Além do Homem? Pois ele nunca falou em Super-Homem, isso foi manipulação do Nazismo: über mensh, ele disse, e isso é dizer: Além do Homem. Mas essa é uma visão ocidental, a visão ocidental de Nietzsche. Andara se desampara é no Tao. Andara quisesse fosse as Outras três partes do discurso que se mantém secretas, não são postas em movimento, mencionadas pelo Hino do Rig Veda, que diz que só conhecemos a quarta, que é a língua dos homens. Andara não busca nada assim, como neste trecho de Nietzsche, com um sentido único de Ida: Andara busca, no homem, tanto o umanoh quanto o umano, tanto o além quanto o aquém do homem. Evocando Flaubert e Madame Bovary, uma vez eu disse, também: - Andara sou eu. De uma certa forma, sim. Mas há uma definição melhor de Andara por Cervantes. Está lá, na abertura daquele seu belo, sobrenaturalmente Belo, Os trabalhos de Persiles e Sigismunda, obra que comovidamente ele terminou em seu leito de morte, morrendo - mas em vez de Morte ou prefira a palavra Metamorfose, e escrevendo a última página e se despedindo do Leitor e informando que estava terminando naquele ponto o livro porque o Livro da sua vida estava, naquele exato momento, também fechando as suas páginas visíveis. Aquela Voz é Andara. O livro de Cervantes começa com uma voz gritando do fundo da Terra, se lançando para superfície, para o Alto e para a Luz, para fora da Escuridão em que se encontra aquele que depois viremos a saber que era Persiles encerrado numa Masmorra no subsolo. Mas no início, só o que sabemos é que é uma Voz e, depois, ficamos sabendo que é Voz Humana. Lembremos Heidegger dizendo que os outros seres tem voz, o homem, além da voz, tem linguagem. A Literatura é essa Voz que se lança do Escuro. Essa Voz que busca ascender da Escuridão é a Literatura buscando ascender no claro-escuro da Escritura. É a Voz da Escritura querendo ascender para o Além do claro-escuro da Escritura. É também a vozinha débil dos livros visíveis de Escritura de Andara já querendo é o AlémAquém da Escritura, no Livro Invisível de Andara. Essa Voz é a Voz Não-Voz do Livro Invisível de Andara. Essa não-Voz, ela é que é a Voz não-voz essencial de Andara. E parece que a única que lhe interessa. Trans-silêncio. As páginas antes cobertas pelos Signos da Palavra buscando o em-branco da Ausência de Palavras.