Vicente Franz Cecim
Onde a Literatura não é praticada como Vida e a Palavra não é praticada como Ontologia, por ressecamento da Saiva das coisas, se dá que a ave é a ave dita, e não mais como o que seja em si quando calada. Não dita.
- E como é a Voz de Andara?
- Há, nela, a noite noite. A ave ave. A água água. O sentir sentir.
Com o que se enuncia, insistindo, a coisa ou ser ou idéia ou sentimento. E essa repetição realiza a recirculação da Saiva que dá vida à coisa amortecida na palavra que somente indicia.
E sé dá outra forma de repetição, que além de persistente, é transfiguradora, assim:
A noite Noite, ou a noite: a Noite. Aquele vento: o Vento.
Com o que tudo - coisa, sentimento, visões, hipóteses - sobretudo coisas - se tornam Entes, Entidades - saem do anonimado da espécie e do gênero - ave, peixe, pedra, noite - e se tornam entes individuais Em Si - assim: a Noite não é qualquer noite - e Aquela Ave, não é qualquer ave. Nem a Pedra. qualquer pedra.
Podendo, ainda, em um passo mais projetado sobre vazios e plenitudes, se repetir a repetição de maneira a se enfatizar tanto a coisa profundamente em ente - noite, noite - e como sua transmutação - noite Noite - em Ente se dirigindo a Ser , assim:
- A pedra pedra: a Pedra. Aquele céu céu: o Céu. Naquela noite noite: A Noite, na Noite.
Que passos ainda a dar sobre esses, já dados, os deixando para trás, uma vez que cada novo passo, na Viagem a Andara, tem - Sim, o poder de confirmar e projetar sempre mais adiante a extensão a percorrer de Vazios e Plenitudes?
Sim, é essa a Voz de Andara.