Andara: VozSilêncio
DIÁRIO VIRTUAL atravessar o que nos nega, chegar ao Sim: e é assim que tu verás um S nestes dias cegos VIAGEM A ANDARA oO LIVRO INVISÍVEL VICENTE FRANZ CECIM
13 de março de 2012
12 de março de 2012
11 de março de 2012
7 de março de 2012
Andara: VozSilêncio: ENTREVISTA Vicente Franz Cecim: O natural é sobren...
17 de fevereiro de 2012
12 de fevereiro de 2012
A asa e a serpente & Manifestos Curau, de Vicente Franz Cecim, lançados em nova edição pelo jornal Diário do Pará
1 de fevereiro de 2012
25 de janeiro de 2012
3 de janeiro de 2012
MÚSICA DO SANGUE DAS ESTRELAS Vicente Franz Cecim.
24 de dezembro de 2011
Kafka: MusikAndara
18 de outubro de 2011
Celebração das noites fatigadas Vicente Franz Cecim
há Desesperos circulares, Tu sabes desesperos
como o do animal no Escuro escuro
Girando
contido no Centro que seu giro gera
E a cada giro, Pura
emissão de intensidade busca as margens para Além das margens
E a cada giro, o Não
Escrita de grades: a palavra Dor não é a palavra Sim
Mais um giro, e eis: a Queda
Luz fenecendo
o Centro que des
morona, des
falece em centro Oo
E se esmorece
o Desespero, e se
se apaga: Se sob a pele Negra olhos se ocultam,
na harpa de grades a pausa é breve e não há Música
pois foi escrito no Bosque Sem Ternuras, em nossa Face: Que os olhos que uma vez se
fechem outra vez se abram,
e eles se abrem,
Cílio sem paz se
acende o Desespero
e Testemunha: as Grades permanecem Lá
E se adormece para os Sonos dos Alívios? Sem
remédio Sem
remédio,
porque sonha Grades
ah, tudo oculta em sonhos a Catedral de cinzas
as Margens
o Círculo
e a chave perdida
Animal escuro,
te tornaste o próprio Centro escuro
Tece teus cílios de Hera sagrada
Cintila
nas noites Sonha
com a Alvura
Não sabes que Outro centroO
te Ilumina,
mais Escuro?
há Desesperos circulares, Tu sabes
Vozes de Andara } Vicente Franz Cecim
ó Árvore de Negros Corais e dos silêncios do Céu
S
ubmerso
em Si como um homem
esquecido pelas paisagen
S
E vagando
Como se um mundo Não existisse
Um mundo não
como um mundo Sim
E convivendo com Ausência e Sombra
Quase deitado na linha do Horizonte, e sem temer a Lâmina, e com os pés pisoteando
estrelas:
dança,
mas não é O Dançarino
II
na via Lenta
este é o caminho das
Grades,
e ouves no fundo da Terra portões de ferro voltando ao pÓ,
como tu
Mas Tu não cumprirás toda a Profecia
Afinal,
não chegaste pela rua da tua Infância? N
ão
tropeçaste na porta da Sede e a Água te ergueu?
Não testemunhas o regresso das árvores nos sonhos da Semente
e
não passa Dentro de ti
a Outra via?
leve
Que
leva
à Leveza Invisível
III
esboçando no Sem Rumo
quando passas, em Si se esconde a Árvore
dos Negros Corais
tu passeias sem Clamor
quem sabe: Até cantes
e o Caminho não é longo
não colheste nenhum fruto,
mas os Corais vão contigo
e teus Passos vão deixando Rumor de treva e água profunda, pois
te seguem, Negros, os Corais
ó Árvore dos Negros Corais
quando passas em Ti
se esconde
26 de setembro de 2011
H
quando na Clareira, Nu
e verás
Estás outra vez na rua onde passou por ti a Vertigem, a Tua Infância
} És Tu
20 de setembro de 2011
a Residência entre Clarões está nas cinzas
29 de agosto de 2011
Tecnologia, Subjetividade, Literatura impressa ou virtual
Já de volta a Belém, Arthur Martins Cecim relatou aspectos de sua posição no debate Identidade, Literatura e Cultura na globalização, do qual participou em Passo Fundo. Foram estas: "- Os meios de comunicação virtuais em princípio são positivos: levam e trazem informações e abrem um grande espaço de diálogo livre para os povos do mundo todo, dando voz aqueles que não tinham. - Mas a tecnologia das comunicações continua centrada e a serviços de interesses de poucos, sobretudo interesses comerciais. Falta uma Ética voltada para o humano. Isso continuará enquanto a Ciência não dialogar em profundidade com a Filosofia, a Antropologia, a Sociologia. - Sobre o que o campo virtual significa ou pode significar para a Literatura, mantendo o livro impresso, o que não deve ser perdido de vista é que a tecnologia aborda, sempre, o exterior das coisas, vê pelo exterior e o utilitário, e busca apenas novos conhecimentos - mas conhecimento não é Saber e existe uma dimensão, ou dimensões interiores, regiões subjetivas, que estão fora do ancance da abordagem tecnológica. Essas dimensões continuarão só podendo ser atingidas pela Literatura. O livro virtual só terá uma existência substancial preservando sua alma, sua natureza original, de meio de manifestação das palavras - sob pena de não descer a essas profundidades, como o livro impresso." (ARTHUR MARTINS CECIM)
LANÇAMENTO DE HABEAS ASAS, SERTÃO DE CÉU!
Arthur Martins Cecim agenda lançamento em Belém de seu livro Habeas asas, sertão de céu! (Editora Record, Rio, 2011) Prêmio Nacional Sesc de Literatura 2010.
22 de agosto de 2011
ENTREVISTA O poeta que inventou Andara
http://blogues.publico.pt/atlantico-sul/2011/08/18/vicente-cecim-o-poeta-que-inventou-andara/
Público
Lisboa
Por Alexandra Lucas Coelho
VozSilêncio Diário Virtual de Andara Link http://cecimvozesdeandara.blogspot.com
28 de julho de 2011
8 de julho de 2011
Kafla, Pessoa, Lautréamont: nossos fantasmas onipresentes
■RESSURREIÇÃO PELOS LIVROS: Kafka, Pessoa, Lautréamont - e mais: Musil, só devastou a Literatura contemporânea nos vinte anos que passou escrevendo O Homem Sem Qualidade mantido e alimentado pelos amigos - Joyce passou outros tantos vagando por uma Europa deserta com o fardo das mil páginas manuscritas de Ulisses, até ser publicaeita graças a amigos - e outros que em grande solidão passaram por nós e nem vimos - vieram e se foram anônimos: nossa espécie leviana só acredida em ressurreições: após a crucificação, quando o corpo some, abrem os túmulos, abrem os melancólicos cadernos baratos escritos na mão - recebem o Fulgor cegante desde a primeira e a cada página aberta - e só assim, desacordados de si e de suas omissões, pálidos, zumbis, sonâmbulos que o morto retornando - agora definitivamente poderoso e irresistível, livre do Ente, agora Ser que não aceita mais nenhum Não humano, exceto o que ainda achamos que foi sua Morte - passa a arrastar, possuídos, conduzidos por essas palavras - sob encantamento, e como que em sonhos. E para onde nos conduzem esses fantasmas Kafka, Pessoa, Lautréamont - e é terrível que os sacrificados pelos nossos silêncios sejam sempre os mais Belos - assim desacordados? Não para os muros da vingança - são muito luminosos para isso: eles nos entendem e nos lamentam, com feroz resignação. Então, para Onde? Para dentro de nós mesmos. E agora, em suas companhias impressas em nossas vidas, nos dão uma oportunidade de, como eles, mas de nossa morte-em-vida - também RESSUSCITARMOS PELOS SEUS LIVROS. Quantos reconhecerão e saberão por em prática transformadora essa Dádiva, e ressuscitarão? vFc
* Dali, renomeado Ressurreição
Vicente Franz Cecim
Viagem a Andara oO livro invisível
VOZES DE ANDARA
http://cecimvozesdeandara.blogspot.com
5 de julho de 2011
Na Penumbra Andara
Jan,
sobre Duchamp e Andara:
quando eu falo que sou um Sonhador Prático, como Duchamp, é apenas para os idiotas entenderem que não existe necessariamente um dialismo rígido entre a metade esquerda e a direita do cérebro - ou mais diretamente: que não é por sonhar Andara que eu não mantenho um olho aberto sobre a estupidez do mundo manifesto ao meu redor - quer dizer, sonhar não é se alienar, ao contrário: é um engajamento profundo, e já qiue falaste de Dostoiévski, um engajamento no Subsolo Humano
O Duchamp perturba instalando pregos em um ferro de engomar
Em Andara - te disse - não há nada da civilização, nem seus valores, nem seus símbolos, muito menos seus utensílios: televisões, aviões, luz elétrica - que são substituidos pela luz das estrelas e a emitida pelas coisa - segundo a alquimia de Paracelso - pelas asas negras e brancas de aves e anjos, e pelas Visões reveladoras dos personagens
Eu vou para o combate direto com esta Civilização dizendo - é em Os jardins e a noite - que Andara é a floresta retornando sobre a cilização que a expulsou
Mas o combate essencial em Andara é a subversão da linguagem, e a emersão de outras realidades submersas - mantidas submersas: por isso eles precisaram de Freud, para ver seus abismos obscuros: o Inconsciente - embora eu não me sinta dividido em Consciência e Inconsciêncis: por vivo em uma Esfera que é toda Consciência: como submerso em um Oceano, cavidade esférica onde apenas se dá que quanto mais à tona, mais claro, e quanto mais no fundo, mais escuro
Digamos, então, que Andara é um universo imaginário mais Medieval do que Moderno
E até mais ancestral, se eu levar em conta o que disse um crítico francês, do Le Monde, Jean de tal, após passar por Belém e levar livros de Andara para Paris, me mandando um e-mail: - Tu escreves como João Evangelista, o Discípulo Dileto
parece que sim: e já que vês Bosch em Andara, também acho que sim
então: O Jardims das Delícias e o Apocalipse - se este, escrito por João de Patmos, tiver sido escrito pelo mesmo João que num dos Evasgelhos escreveu: - No Princípio era o Verbo, e o Verbo se fez Carne
No Centro da Amizade,
aVe,
vFcecim
# Em nosso próximo encontro me lembras de falar sobre o meu Sonho de um dia os homens descobrirem que podem viver na Cicatriz Perfeita - aquela que já existe, antes da Ferida acontecer
Andara: oO
Jan,
o que é bom em nossos diálogos - é que fazemos muitas perguntas e damos poucas respostas: e Isso é Andara: no Obscuro, em demanda de Luz, e depois - compreendo que do escuro não se atinge a luz e passando a se dirigir, sem se contorcer mais tanto em duas vias - à Penumbra: a Vida se abrindo em mil e uma hipóteses - e o que o místico senão uma imensa hipótese de Eternidade sonhada - e o que são os Sonhos senão Hipóteses, e por isso libertam do nosso claro-escuro desperto - a partir do Efêmero das coisas manifestas, que são todo este visível ao nosso redor - e em nós?
Quanto ao visível e ao Invisível, o primeiro livro visível de Andara - A asa e a serpente - em 1979 fazia a abertura ao Livro Invisível e a Viagem a Andara, sob o signo de
atravessar o que nos nega, chegar ao Sim: e é assim que tu verás um S nestes dias cegos
a frase que - junto com o que se lerá no início da Viagem - atua como uma orientação, incerta - pois também é uma hipótese: de que existam um Sim - podemos erguer um Imaginário com a matéria prima visível? - embora firme no sentir que há nãos resistindo as nossas viagens humanas, por todos os lados, e em toda parte - metade dessa resistência se dando, oh, dentro de nós
Viagem a Andara oO livro invisível
Tu escreves um livro com tinta invisível
Por que fazes isso?
Nós somos homens invisível
Depois de nascidos, visíveis.
Entre o início invisível e o invisível final, nós somos os homens visíveis.
Aproveitemos para nos ver
E então ir escrevendo outros livros, nestes Jardins, todas essas Asas, para que um livro vá se fazendo.
Mas não em si. Dele não se verá nem sombra das palavras no papel.
Viagem a Andara
O não-livro. Não existe, não existe
Literatura fantasma.
Não foi escrito.
Enquanto texto, tudo o que teremos dele é um título
E a pergunta seguinte é:
E o que são livros, os livros que se escreve
Livros de Andara.
Livros-miragens. Pois uma vez escrita, da vida só resta a alucinação literária
Situação dos livros de Andara: condenados à visibilidade para que Viagem a Andara oO livro invisível
possa existir como pura ilusão.
Andara, a viagem ela mesma, nunca será escrita diretamente.
E ela está começando assim
A asa e a serpente [primeiro livro visível de Andara ]
Minha mão direita está cuidando da direita como se fossem dois irmãos
E há aves caindo do céu e se transformando em terra. A mão direita que ainda mata
(...)
Esta viagem a Andara
E aonde mais?
Na vida.
Andara é perto e longe. Andara está dentro de ti. E fora. E dentro de mim.
Diz a voz
(...)
Se alguém entende estas palavras iniciais, toda a Viagem se abre, pelo menos, subjetivamente a ser percorrida vivencialmente, reflexivamente, sobretudo contemplativamente: pois Andara nasce e se Nutre da relação entre reflexos mútuos entre os livros visíveis e o Livro Invisível - relação que certamente é limitada pelo meu pequeno logos, humano, mas sabendo que seria pura expansão sem fim nem finalidade, quando o mesmo ocorre entre as emanações criativas do Uno - e disso Plotino nos diz, sempre muito Belo, que: O Imanifesto manifesta o Manifesto e este, por contemplação do Manifesto - logo, curiosamente, voltado para trás e para Ele, Manifesto - manifesta, por analogia com o mesmo processo original emanante, o Espírito - após a Hipótese Andara, não tenhamos mais tanto medo das grandes palavras: nela tudo é permitido - que voltado para o Manifesto, manifesta a Alma, que voltada para o Espírito, manifesta o corpo
E eis: estamos aqui, sobre uma das esferas girantes num Cosmos que é Pura Hipótese, homens, ora de cabeça para baixo, ora para o alto - mas ainda tentando nos manter de pé, e vacilantes tantos séculos após a transmutação das patas dianteira em mãos: origem de toda a Civilização concebida idealmente para nos proteger - como um outro céu - mas construída, na prática, em uma das dimensões possível da existência, a mais hostil, pois é a que o Demiurgo denunciado pela Gnose como criador imperfeito, engendrou
Como regressar ao Céu que o Imanifesto manifestou?
Segundo Plotino: contemplando o Imanifesto que permanece Invisível - em nós, no Profundo em nós
Então, na dimensão do Demiurgo: escrever livros visíveis
Na nãoDimensão do Imanifesto: entrar em correspondência com Ele através de um nãoLivro
E enquanto nos falamos, entre nós, com bocas
Falar com o Uno da única maneira possível: Sem Boca
Isso é a Viagem a Andara:
Situação dos livros de Andara: condenados à visibilidade para que Viagem a Andara oO livro invisível
possa existir como pura ilusão.
Andara, a viagem ela mesma, nunca será escrita diretamente.
Tu dizes, J:
O mundo já teve visionários - de novo me refiro a Hieronymus Bosch (e não somente o apocalyptico), pensei numa Hildegard von Bingen - que nos ensinavam como sonhar desperto. E acho que realmente e verdadeiramente o que as religiões (originais) procuram é aquele desligamento do mundo visível, tangível. O que é rezar se não entrar no misticismo percebível?
Já numa ocasião te referiste a Bach, no momento não acreditava numa ligação de Andara com as fugas, e nem agora acredito. Penso mais nas músicas pentatonais, estilo Gregoriano, por exemplo, ou nos mantras do Budhismo. Mais, e isso me surpreendeu - escutando uma obra do Stockhausen (o primeiro compositor de música eletrônica) tive visões de Andara. Agora te pergunto: se isso é todo eletrônico (quer dizer a-natural), como manter a naturalidade das Andares??
E eu enfim alguma coisa posso responder:
Quanto a Bach ter contaminado a tessitura musical de Andara: sim:
por isso Andara é fuga do manifesto através dos caminhos semicegos dos livros visíveis que escrevo, aliás, que se inscrevem em Mim
Quanto a Bosche ter contaminado a tessitura verbal de Andara, sim:
por isso Andara sendo região intermediaria entre a Terra e o Céu, espelho de reflexos entre o visível e o Invisível que está por trás das nuvens e das estrelas
Quanto a Hildegard von Binger, veio depois, já durante a Viagem, uma das confirmações doadas por outro homem à minha necessidade de sonhar desperto
Também se ouve Cantos Gregorianos em Andara? Sim
E mantas do Budhismo? Sim: mantras de todas as espécies, sobretudo os silenciosos: páginas em branco cantam enquanto as palavras falam, às vezes rosnam, ainda o Animal em nós
E Stockhausen?
Quando ele transportou a Música dos homens aqui na Terra até os Sons ecoantes no Cosmos, parece que buscava o que busquei:
transfigurar a Literatura em Escritura - buscar o Primordial, Raízes - retornar à Raiz de tudo
E como Andara se consente ser habitadas por tantos visitantes estrangeiros a ela?
Assim: sendo Lugar Sem Lugar
Ou: Lugar de Nenhum Lugar
aVe.
vFcecim
III
No Tempo da Hipótese
ENTREVISTA DE VFCECIM NA UNIVERSIDADE LIVRE DE BERLIM
e disso nasce uma delicada Teia de Espelhos e quase insuportável Tensão: Tensão que só pudesse ser manifestada se Andara se desse em um outro espaçotempo que não mais o da Literatura instalada ora no Presente, ora no Passado, ora no Futuro, mesmo quando ela, a Literatura, mescla todos esses modos de tempo numa só Espessura de Tempo. Espessuras comunicantes. Para Andara, nada disso resolvia mais: a sua exigência extrema, a exigência que me fazia e continua fazendo, desde seu início até hoje, é a de uma Abolição de qualquer Espessura.
TODA A ENTREVISTA NO SITE DA UNIVERSIDADE
http://www.lai.fu-berlin.de/brasil/veranstaltungsarchiv/Entrevista.pdf
Vicente Franz Cecim
Viagem a Andara oO livro invisível
VOZES DE ANDARA
http://cecimvozesdeandara.blogspot.com
20 de junho de 2011
Noite das nutrições profundas
és o Livro
que se lança em todas as direções nas Regiões Escuras: Agora
oO Círculo
cintilante
que te envolve
E nos limites da Esfera,
se te voltas para te ver Fonte
que se jorra,
vês:
o Outro,
Água que no Centro da Esfera ainda Lá és tu de novo,
murmurando
Tu
és o Livro,
que se lança, Chama
1 de junho de 2011
da transfiguração da Amazônia em Andara e do Manifesto Curau em defesa da região
18 de maio de 2011
Andara quer a Origem, o Antes
ENTREVISTA
14 de maio de 2011
ENTREVISTA Habeas Asas, Sertão do Céu: a fábula aérea de Arthur Cecim
A edição de 2010 do Prêmio Nacional Sesc de Literatura recebeu 1.142 obras provenientes de todos os estados e 76 foram selecionadas para a etapa final, sendo 37 romances e 39 coletâneas de contos. Na categoria Romance, a obra Habeas asas, Sertão do céu, de Arthur Cecim, foi apontada como a vencedora pela comissão de jurados de sua categoria, composta pela escritora Alice Ruiz e pelo professor e pesquisador Antonio Vicente Pietroforte. O romance tem pássaros como personagens, mas durante a narrativa o leitor os sente como seres humanos. A história é apresentada do ponto de vista do céu, habitat dos personagens, e Arthur Cecim inova na linguagem que, segundo Alice Ruiz, "se alimentou das dicções mais inovadoras, como a de Guimarães Rosa, Haroldo de Campos, Paulo Leminski, Mia Couto e da poesia de Manoel de Barros".O livro será publicado e distribuído pela Editora Record, parceira do SESC no concurso literário desde 2003.A cerimônia de lançamento das obras será em 4 de julho, na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro.
Na entrevista a seguir Arthur Cecim fala de sua vida e obra.
ENTREVISTA
Você vem de uma família de escritores. O que tem a di
zer sobre isso?
- Venho do vínculo sagrado com a minha Vó, Yara Cecim e com meu pai, Vicente Franz Cecim. Desde criança, já existiam imagens em mim que hoje eu transformo em literatura, em livro. E foi minha vó Yara quem me ensinou o sagrado das coisas naturais, contava estórias, eu aprendi a narrar através dela, ela me contava estórias daqui como se fossem estórias épicas, lendas que eram teogonias. Minha vó vem de uma região, o Caxambu, onde homem e natureza são um só. Meu pai Vicente me ensinou as imagens oníricas, que me tornaram mais clara a indiferença entre céu e terra, sonho e realidade. Sigo o caminho de uma não-literatura, algo que está na terra, antes de chegar aos livros: os livros que escrevo são símbolos da indiferença entre natural e sobrenatural, coisa que meu pai me ensinou desde sempre, nos tempos mais arcaicos de minha infância.
Tem alguém a mais que lembrar: minha bisavó, Honorina Bastos, mãe de minha avó Yara, era uma poetisa transcendente. Foi ela quem me abriu um clarão, uma imagem eterna em minha mente, seus poemas são divinas implorações: ela tem um poema do qual me alimento eternamente.
Você é um dos poucos escritores paraenses que já lançam seu primeiro livro por uma grande editora nacional e que poderá ser lido por leitores de todo o Brasil. Qual o significado disso?
- É preciso que façamos uma literatura mais avançada, a literatura regional está esgotada, ressequida, sua fórmula, que é uma fórmula, não é uma forma de literatura autêntica. Os escritores de nossa região devem tentar outras formas de expressão, temos em nossa região todos os elementos para fazer uma literatura mais avançada: devemos tratar e fazer literatura como “transregião”, indo além do visível, literatura de forte imaginação, criadora de novos mundos. A literatura regionalista resseca as possibilidades porque estanca no particular, toma o particular como particular. Devemos dar asas universais ao particular, transregionalizá-lo. Fazer uma migração invisível dentro do próprio visível. Meu recado aos outros escritores é: sonhem, pois a região em si já é onírica.
Do que trata o seu livro?
- É uma estória baseada numa fábula, é uma parábola, na qual elementos sagrados e profanos, mundanos e supramundanos co-existem como um só, vistos no mesmo espelho da alma, o livro é uma busca pela bem-aventurança na terra. Ele fala de um sertão da alma, que habita em todos nós, todos os seres do universo. Somos filhos do universo, não é? Então temos esta nostalgia eterna. No livro não há diferença entre o natural e o sobrenatural, o sobrenatural é somente um sobre o natural.
Como você abordou esse tema?
- No livro é mantido o substrato regional, o elemento natural, mas a linguagem estética é universal. Por isso o livro vai além da literatura regional: ele mergulha naquilo que a realidade não diz comumente, mas diz pra si mesma, encoberta pelo cotidiano dos homens. Como se fosse uma transvisão: ele aborda o visível como se o visível tivesse uma alma, um segredo a nos contar, a nos confessar. Eu via as “visões” do mundo natural e as conjuguei com minhas visões e imagens internas: o livro é um enamoramento das duas visões. Eu sempre soube que o sobrenatural está onde menos o procuramos: na visão do mundo natural e quanto mais humilde e sub-natural, mais ali está o sobrenatural. As coisas se entregam mais a elas mesmas, é Ali que a realidade está dizendo mais sinceramente, devemos olhar para ali. Mas esta visão é uma “visão”, figuração do universal, imagem do universo vivo e não mera ótica de nossos olhos físicos. A semiótica daquela imagem é um interlúdio entre natural e sobrenatural, uma passagem secreta e onírica entre os dois. Um sonho real ou uma realidade onírica. Não é só surreal, porque não é uma distorção dos elementos do real, é também supra-surreal, porque distorce os próprios elementos que distorcem o real. O livro é uma migração eterna das palavras. Cada palavra é um sertão vivo.
Quais são seus escritores preferidos?
- Na leitura de ficção, tenho paixão fervilhante por Jean Giono, um escritor francês admirador do interior da França, adorava a vida camponesa dos vilarejos e a solitude da natureza, e a preferia ao invés de andar nos círculos parisienses. Ele tem um realismo onírico, um realismo surrealista que me encanta. Seu livro mestre, obra prima: O cavalheiro do telhado e a dama da sombra. Lendo os livros de Jean Giono me lembro da linguagem viva e cantante dos sertões de Guimarães Rosa, o qual aliás apreciava Giono. Também admiro profundamente o mexicano Juan Rulfo e sua obra brilhante Pedro Páramo, que é uma verdadeira divagação entre as pessoas e o silêncio, há uma voz no livro. Também é de minha admiração Witold Gombrowicz, e aquela coisa do universo vivo por debaixo de nossos olhos físicos. Como tradutor e professor de língua inglesa, não poderia deixar de mencionar Charles Dickens, que tem uma literatura muito viva e faz na língua inglesa o que a meu ver o Guimarães Rosa faz na língua portuguesa: existe em Dickens um sabor verdadeiro pela linguagem como em Guimarães Rosa. Na poesia, gosto do lirismo e da sinceridade fraternal dos versos livres de Walt Whitman.
Entre os escritores nacionais, o maior de todos é para mim Guimarães Rosa: todo o universo conversa consigo em Grandes Sertões: Veredas. Em Guimarães vemos o universo vivo no diálogo migratório, no diálogo vivo das sagas da vida. Guimarães Rosa tem uma ternura pelo empírico, tem uma visão ampliada do universal no particular, um conhecimento anímico do empírico, as coisas estão todas vivas e presentes na linguagem, a linguagem é o que universaliza as coisas. Ele fala com amor do empírico, descreve com sabor as realidades que falam por si só, sua ternura é um amor do universal nas coisas particulares. Os gerais são um sertão do mundo. Entre outros, admiro também Machado de Assis e Mário Peixoto. Na poesia, Augusto dos Anjos.
Estudo filosofia na Universidade Federal do Pará e tenho também na filosofia um caminho através da estética. Schelling, pensador alemão do idealismo, fala da possibilidade de uma filosofia da arte como retorno à unidade e origem dos tempos arcaicos: nele não há diferença entre natureza e homem, entre o poético e o físico, mýthos e logos. Schelling pensa uma poética orgânica, nele a natureza é dotada de alma, nele a natureza é arquétipa: para mim, isto é pura mitologia da natureza. Me identifico com este modo de pensar porque devemos resgatar o encantado que a mitologia um dia nos proporcionou. Houve um tempo, na antiguidade, onde a mitologia era pensamento e poesia, reflexão e narração, onde a natureza era antropomorfa e o homem era natureza. Este elo se partiu: devemos resgatá-lo.
Qual a relação entre a filosofia e sua literatura?
- A filosofia expõe o universo assim como minha literatura, nela não há diferença entre homem e natureza, o mitológico e o físico, o mythos e a phýsis, e isto está no próprio título: Habeas Asas, Sertão de Céu!
No meu céu, sobrenatural, há sertão. No sertão, igualmente sobrenatural, há céu. É como eu disse: o sobrenatural não é repartido do natural, ele é somente um sobre o natural, ele paira. A filosofia, seguindo a fusão pensada por Schelling, filósofo da natureza-alma, deve resgatar seu vínculo com o poético. A natureza, como física, deve resgatar seu valor poético. Mera ciência de um lado e sobrenatural desacreditado são uma desagregação que deve ser desfeita. Filosofia e poesia devem retornar ao ponto de onde partiram, como quando eram uma vertente só. Filosofia e poesia devem retornar ao ponto de encantamento.
Como eu vinculo a filosofia com a minha literatura? Por meio da poesia.
Eu acredito que a natureza seja uma poética orgânica. É a poesia que possui o substrato tanto da filosofia quanto da literatura de ficção: a literatura não deve ser somente descrição, deve ser sim descrição poética, e a filosofia não pode ser apenas reflexão, deve ser sim reflexão poética. Heidegger, talvez seguindo os caminhos de Schelling, já falava do vínculo esquecido entre filosofia e poesia, quando ambas perguntavam pelo Ser de um modo originário, que a techné instrumentalizada das ciências e do cotidiano ajudaram a encobrir. Heidegger já falava deste esquecimento do ser pelo ente. Benedito Nunes bem atentou para a necessidade do sentido como aquilo que humaniza a filosofia: este sentido só pode ser buscado na pergunta pelo ser, e esta busca autêntica só se acha no seio do poético, onde o ser se revela, livre e espontaneamente sem as amarras da instrumentalização cotidiana do saber. Todo o sentido do ser está numa correlação entre hermenêutica e poesia, a hermenêutica é o ponto de encontro entre a filosofia e a poesia, já nos dizia Benedito Nunes.
Você já tinha publicado outras coisas?
- Sim, já havia publicado poemas em sites de literatura da internet.
Você pretende continuar escrevendo?
- Sim. Já tenho outros livros escritos ainda inéditos e prontos para publicação. E continuo escrevendo novas ficções. Também escrevo poesia. Espero poder lançar meus poemas em breve. Vou seguindo a vereda.
ARTHUR CECIM é romancista, poeta, filósofo e tradutor de inglês. Nasceu e vive na Amazônia, em Belém do Pará, Brasil. E-mail arthurcnewcastle@yahoo.com.br