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Depois de K - O escuro da semente (Ver o Verso, 2005) e de Ó Serdespanto (Bertrand Brasil, Rio, 2006), o paraense Vicente Cecim lançou seu mais novo livro na XII Feira Pan-Amazônica do Livro. Editado pela Tessitura Editora, de Belo Horizonte/MG, 'oÓ: Desnutrir a pedra' é o décimo quinto livro da obra 'Viagem a Andara oO livro invisível', que já completará 30 anos em 2009. Com apresentação assinada pelo o poeta gaúcho Fabrício Carpinejar, o livro chega às livrarias sob a indicação dos melhores críticos de literatura do Brasil e da Europa.
A literatura de Vicente Cecim não se reduz ao bairrismo em que muitos escritores paraenses caem ao tentar valorizarem o que é nosso. O caráter universal da obra literária é respeitadíssimo em Andara.
Este novo livro de Vicente Cecim é o monólogo de um pai perante a lápide de seu filho morto. A pedra da lápide é o espaço onde o filho “regressa à fonte de todas as imagens” e é a metáfora do espaço de leitura onde o (re)encontro entre pai e filho é também o encontro entre o homem e suas (in)finitudes.
Segundo o poeta Fabrício Capinejar, que assina a apresentação do livro, 'oÓ: Desnutrir a pedra é um livro secreto dos vivos mais do que dos mortos, de quem ficou com a dor e não pode fazer de conta que ela não existe'.
Esse processo de encarar a dor causada pelas irreversibilidades do existir, vivido pelo personagem, é o suporte da utilidade funcional dessa leitura. Pois quem nunca sofreu com a dor provocada por um fato irreversível? Que lições se pode extrair de um momento de dor?
Geralmente esses momentos nos privam de poesias e belezas e nos deixam meio lentos para o aprendizado que trazem. O novo livro de Cecim supre a necessidade do belo e da poesia que nos faltam na dor. O leitor, distanciado de sua própria dor ao apreciar a dor do personagem, consegue aprender e apreender com a dor já distante do momento em que doeu.
O pai que perdera seu filho encara a rocha, a cruz, explora o humano da pedra e remove as pedras do coração, narrando histórias sem fim porque a lápide, símbolo do fim, é desnutrida pelo narrar e miraculosamente convertida em símbolo de infinitude. Por isso, Carpinejar refere-se a ele como a 'Um homem que não se limita a trocar as flores e a água do jarro, e simplesmente decorar a tumba. Um homem assombrado de delicadeza, meticuloso no ar do verbo, que se refaz em cada frase, procurando articular o pensamento perfeito'.
Trata-se de um livro belo cuja beleza repousa na recusa do fim: 'Uma vez nascido, tudo é para sempre' – diz Cecim.