5 de setembro de 2008

Suhrawardi e o Homem de luz
















Buddha: Odilon Redon



Apresentação ao Xeique Suhrawardi

Suhrawardi (Shihab al-Din Abu al-Futuh Yahya ibn Habash ibn Amirak al-Suhrawardi ou Sheique al-Ishraq) nasceu no noroeste do Irã, próximo do Azerbaidjão, por volta de 1155. Seus biógrafos indicam que Suhrawardi manteve contato com muitas linhas filosóficas emergentesem seu tempo e parece ter estudado filosofia e teologia com Majd al-Din al-Jili. Sua vida foi bastante curta e teve um final trágico. Sua filosofia era ampla demais para o tempo e lugar onde Suhrawardi vivia. Ele foi incompreendido e morto em Alepo, na Síria, por Saladin, ao redor do ano 1191. Sua obra permanece viva até hoje e possui uma qualidade notável para alguém que morreu aos 36 anos de idade. Suhrawardi buscou unir em sua doutrina as influências místico-filosóficas mais importantes de seu tempo. Entre elas, os continuadores da escola de Avicena, os cristãos nestorianos e provavelmente o ramo shiita associado aos Irmãos da Pureza. Muitas vezes foi visto vestido como um dervixe, participando de seus rituais. Porém, a maior influência de Suhrawardi parece ter sido o sistema zoroastra. O Azerbaidjão foi um dos focos mais importantes da crença zoroastra e esta parece ter sido a principal inspiração de Suhrawardi ao montar seu sistema de crença, conhecido como Ishraq. Sua filosofia, em sua teoria, se parece em muito com a dos gregos, mas suplanta-os devido à força experiencial que seu material destila. Mais do que um conjunto de idéias, Suhrawardi aponta para estados de ser e para a busca por estes estados. Sua linguagem mistura-se com a sabedoria atribuída a Hermes e ao mesmo tempo à beleza poética da busca pelo Amado dos poemas de Jalaludin Rumi. Mas seu sistema é bastante complexo. Herda da crença zoroastra a doutrina das Luzes e do Homem de Luz e a Angeologia e Cosmologia associadas, e herda do sufismo a busca pelo estado de união com o Criador. Ishraq é o termo que designa "a Luz do Sol-Nascente". É também a luz do "Oriente", não o geográfico, mas o metafísico, como um símbolo do ponto onde a Luz nasce. Trata-se aqui de atingir a visão interna da Luz da luz ou da Luz de onde se originam todas as luzes. Suhrawardi correlaciona esta Luz com a Luz da Glória, o Xvarnah, do sistema zoroastra. Sua filosofia busca orientar a Alma em direção a sua origem "oriental" e por isso, é iluminadora. Correlaciona a luminosidade emergente com os graus de evolução possíveis ao ser humano, atingidos na busca por galgar os estágios espirituais que o aproximam de sua origem celeste. Seu trabalho nos remete à figura do Anjo-Guia da humanidade. Intitula-o também de Doador de Formas ou Sabedoria Eterna e de Agente da Inteligência. Correlaciona-o com Gabriel e com o Espírito Santo e ainda com Sraosha da doutrina Avesta. Ele seria aquele que confere à humanidade a Revelação ou o Conhecimento que a orienta na direção de sua origem. Este Anjo relaciona-se com o "pai espiritual" do homem, pois dele herdamos a capacidade presente emtodos os níveis das hierarquias superiores de nos orientarmos no sentido de nos transformarmos, expressando assim, nosso desejo pelo Retorno. Há um elo indissolúvel entre a busca pelo Anjo e a busca por si mesmo. Impossível não recordar aqui da afirmação: "quem conhece a si mesmo (sua alma) conhece o seu Senhor". Assim, esse Anjo que guia a humanidade se individualiza frente ao discípulo como a sua Natureza Perfeita e se expressa como o Homem de Luz. E mais, em alguns relatos, encontramos que ao se deparar com a imagem do Homem de Luz o discípulo se surpreende ao observar nele, a própria face. Tal entidade nos remete a nós mesmos, ou dizendo melhor, a um estado bastante elevado mas possível ao nosso ser. Trata-se pois de alinhar-mo-nos a ele, ou à direção a qual ele se volta perpetuamente. Assim, para o sheique al-Ishraq, a origem do homem e o seu destino são o mesmo. E mais, entre o Anjo e a humanidade existe uma certa solidariedade em termos da busca pelo retorno, pois ela será sempre a mesma, qualquer que seja o nível analisado. A alma revestida então, pela Luz divina é correlacionada com o termo Sakina, ou a habitação permanente desta Luz. Este termo (em árabe) possui seu correspondente hebraico em Shekinah, a morada. E mais, nos remete ao conceito da Presença divina, que agora possui um templo, a própria alma do indivíduo, capaz de servir-lhe de morada. A leitura meditativa do material de Suhrawardi é sempre bastante surpreendente, pois seu modelo contagia o estudante de forma a transferir-lhe os estados que o próprio Suhrawardi deveria experimentar. Isto comprova que, mais do que apenas um sincretismo de idéias, a genialidade e elevado nível espiritual de Suhrawardi foram os verdadeiros responsáveis por sua doutrina notável.


Texto: Anônimo.