15 de agosto de 2009

Lévinas: O Rosto: o Mesmo no Outro
























a-Deus


O rosto fala. A manifestação do rosto é o primeiro discurso. Emmanuel Lévinas


























Lévinas 1906, Lituânia :: 1995, França

vFcecim:

- odradek, OdradeK. Tu dormes?



Odradek:



-



vFc:



- Olha, vê, são livros. Estas coisas, humanas, que pretendem falar como gente mas sendo coisas que com a boca são outras as que se diz.




Odradek:



- #



vFc:




- Porque manténs fechados os olhos, vê ao menos as capas. Estou aqui cercado por eles, sitiado, com Lévinas, o Emmanuel, seus: Ensaios sobre a alteridade & Humanismo do outro homem & De Deus que vem à idéia & Totalidade e Infinito & Deus, a Morte e o Tempo & Quatro leituras talmúdicas. Mas não acho mais o livro dele Da Existência ao Existente, do meio desses, se foi. Odradeck, se achares algo morto-vivo imerso na Penumbra luminosa aí debaixo de tua casa-escada da minha casa



Odradek:




-



vFc:



- me entregas? Será ele.




OdradeK:

- #




vFc:




- Lévinas, ah, faz uns últimos anos eu vivo indo e vindo a ele. Sabes o que ele foi fez pensou tentou saber e nos dizer? Nem te interessa, nada? Mas então te digo falando comigo mesmo, e me dito a ti: - Ele se opôs à tendência à dominação tão absoluta do ser de Heidegger inicial mas que no fim já dizia, ele, H: - O homem só chegará ao ser passando pelo não ser - e àquela Metafísica que só quis buscar um além-sem o humano, deixado para trás, em Queda, como o homem de fora diante das Portas da Lei do Paraíso, e trouxe tudo de volta para o aqui, agora e o humano - diante do Rosto do outro, ele diz, encontro a Significação de existirmos: não a minha só nem a dele só: o Rosto me traduz e remete à relação do Mesmo que sou com o Outro que o outro, a partir do seu Rosto, é - e isso deveria ser uma reciprocidade oniconsciente, ele propõe - porque os Rostos estão diante de todos nós, uns dos outros, mas nós não vemos nos rostos o Rosto que cada um contém e, fundamentalmente, é. Isso é um esboço do que ele propôs via Filosofia. E eu lembro, agora, aquela seita tão antiga que não lembro o nome e que dizia que cada Rosto era uma Letra no Alfabeto de Deus, nos falando. Ah, certamente ele, Lévinas, mescla a Cabala, judaica, a mística judaica, com a fenomenologia bem exatamente desde Husserl e seguindo seu caminho através da ontologia do Heidegger - ora, estudou com os dois, foi contaminado por eles - e os elefantes são contagiosos, dizia Dadá - e ele era judeu



OdradeK:



- #





vFc:




- sim, como Kafka, ah, já entendo os grunhidos do teu silêncio, OdradeK. E, agora, por K, pareces que algum interesse nasceu em ti, cintilou por instantes? Mas já se apagou? Então, aproveito e te digo: Lévinas passou anos em campo de concentração: viveuviu a perda total de sentido do humano nos não-Rostos dos assassinos de Hitler e dos judeus se reduzindo à humilhação do abandono da carne até os Ossos - como se diz: Pele e osso, e mais: uma Indiferença dos seus carcereiros por esse desnutrir que de tantos deve ter avançado des-nutrindo - não des-truíndo: a Imortal, porque sendo não é nesse sendozinho em que somos - até as suas fronteiras, dAquela que por não saber O Nome e se tem um, chamamos Alma. Todo esse tempo ele conta, dele nos fala, do seu aprendizado fatal em seu primeiro livrinho: Da Existência ao Existente. Escreveu sentindo após desde sua permanência na outra Casa dos Mortos de Dostoiévski. Quando saiu dos campos de concentração, e então agora, eis, Lévinas esta desperto para uma Luz que nem Huserl nem Heidegger haviam acendido plenamente nele e sobretudo Ad-vertido contra a in-diferencia, a di-ferença que ignora a diferença do outro e o tédio mortal do eu-paramim, em mim, sem considerar o Outro. Ah, Odradeck, e ainda de judeus: Isso isso tudo passa um tanto pelo Eu e Tu do Buber também. mas é o Rosto o essencial no despertar de Lévinas, em sua filosofia. Claro, é um novo Humanismo, mas é um humanismo diferente do tradicional rigoroso, não, esse é um Humanismo bem lúdico, e nele o Ser se assume é no Ente e qualquer Transcendente só é admissível no agora & no humano, partindo dele e a ele regressando: - O Ecoante Ente Humano, então, no Uni-verso das coisas, na Vida. Repara, bem claramente aí na sombra da tua escada onde te falo e não me escutas: - Mas não se limitando ao humano agora, só o evidente, embora partindo dele, do quase o objetohumano dos corpos judeus sendo destruídos, corpoconsumido, pelo humano neles objetivado e objetivador dos matadores de Hitler. Não, Lévinas apela, exige, demonstra: - Esse humano, já, agora, diante mim - que é, segundo ele, o único ponto de partida válido para se chegar ao Homem por ser o único ponto de chegada válido a atingir, o: o Encontro. Assim ele, Lévinas, se opõe à metafísica anciã de um além-sem-ninguém e estranho ao homem no humano. Aquele: - O que fizeste para ir além do homem, de Nietzsche, é um humanizar para melhor pela superação, Lévinas quereria o mesmo pela regressão ao menor no homem, o Ente no Imediato. Seja um ser - ele parece nos dizer - para a morte, como Heidegger andou falando nos seus começos - seja para a vida, desses todos Lévinas insiste que só se sendo no Rosto do outro é, seria, fosse, sendo, a vida Real - pelo menos a vida ética desejável. Ah, Odradek


Odradek:



- ¨¨¨¨

vFc:

- Lévinas faz uma espécie de, digamos por dizer: existencialismo ético, mas sobretudo parece ser o inverso: uma ética existencial, de conduta, percepção e responsabilidade ir-recusável pelo Outro, um ir para o Outro. Um Impulso, o Único que fosse Caminho. Ele sabe que a vida dos homens não é assim, generosa, nem na ânsia metafísica nem na situação ontológica, que a Própria Vida não é assim, a imperfeita e dura e inquietante, inquieta. Por isso, ele, L, insiste em que o viver precisa - única chance para o homem - ser uma: - Ética conduzindo um Existir, e não o contrário. Porque no contrário o homem será sempre o semRosto submetido às carências, necessidades, os Medos nos rondam, odradek - deixa que te diga sem que nada nos ouça

Odradek:

- ¨#¨


vFc:


- Odradek? Odradek? Estás sempre dormindo, Odradeck, ou despertaste pelo tempo de um cílio se abrindo, que eu nem vi, e foste adormecendo novamente ouvindo a minha voz - vazia de interesse para os ouvidos Ocos antros nas extremidades do teu ser carretel novelo. Ah, odradek, retornado aos teus novelos e agulhas, ó ser tripé


OdradeK:


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vFc:


- Enquanto dormes, e não me escutas, eu ainda digo: - Apesar da Luz do Rosto, não conseguiremos jamais esquecer a voz de Sartre, insistindo: - O Inferno é os outros. Dizendo: - O homem é uma paixão inútil?


OdradeK:


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vFce:


- Oh, Bartleby Odradek, oh Humanidade. Prefiro não fazer, Merville.





Diálogos com Odradek: II Temor de ser neblina



















Vicente Franz Cecim