28 de março de 2009

Esferas


Por isso, há estrelas que preferem a solidão, e ficam lá, esferas, girando em si, em sonhos
e homens que preferem ser só homens, vazios de homem em si, imagens
- Pois mais se quebra a carne que uma imagem



vFcecim
fragmento de: K O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisível

aVe, Bruno Cecim


Esferas: Arqueiro Zen




22 de março de 2009

Viagem a Andara oO livro invisível

Aqueles dois, Ali

Vicente Franz Cecim







nem soubessem o que lhes havia acontecido:

Quando a Estrela cintilou, foi dentro, embora sendo também no Céu,
lá longe

Lá,

no
que não se vê

Quero dizer: ver, Vendo
Não como se olha as coisas com estes olhos que temos de quase nada mais ver no Lá, de Onde, antes, víamos vendo.



ah aqueles dois, Aqui.

Fossem um homem e uma mulher, uma mulher e um homem, ou Aves, Ela com suas penas de Cor, ele com suas penas Sem cor
Mas todo branco. Branco, branco, Branco. Como um sonho vazio.

fossem eles talvez peixes, ou insetos

De todos os modos, de ser. Daquela maneira sendo o Masculino o Feminino,
Coisas que se atraemrepelem

Vocês sabem como somos, sendo.
Acariciamos pedras, lançamos pedras. Nossas mãos com ternuras, sem ternuras.
Depois, recolhemos as pedras que lançamos nos curvando para a terra,

tantas vezes tarde demais.

tarde demais
- Ele disse a Ela.
- Agora já começou a sangrar. Tarde demais, ela disse a ele, pois o sangue, após as unhas dEla, não fossem lágrimas descendo dos olhos dEle,

embora parecendo.
Mas as lágrimas logo vieram, seguindo o mesmo caminho do sangue. E, gota a gota, lágrimaSSangue, umas serpentes, deslizando, jorrando para a terra, sobre a Terra, aos seus pés.

Tarde demais, ela dizendo.
E ele:
Mas não te culpes, porque logo virão: o sangue coagulado, a cicatriz, e a cicatriz ficando branca, embranquecendo embranquecendo, Tu e Eu logo esqueceremos as tuas unhas ainda há pouco cravadas no meu Rosto


Foi como foi dito, e acima está escrito. E mais acima Acima

Quem tiver olhos para ler no Longe, leia


Passaram os dias.
Veio o sangue coagulado.
Veio a cicatriz.
Veio a Brancura imensamente do perdão de dentro dEle, olhando as penas dela, a Toda Azul


Ah, aqueles dois. Aqui.

Mas as suas lágrimas misturadas ao sangue mancharam o Centro muito Alvo do seu Peito.
E aquela mancha nunca mais sumiu.
Ali, a brancura não retornasse, não retornava

E Ele, se perguntando, olhasse o seu peito manchado na claridade do Lago

- Qual é o Lugar do Perdão?

E só a voz do vento, suavemente passando sobre a água não lhe dizendo nada, ou já isso a Resposta


aqueles dois, ah


Não fosse Ele ficar todo escuro, se Ela fizesse novamente aquilo.
As Unhas, ah

aqueles dois. Com mãos.


Na Noite as mãos deles se conheciam em Sonhos.

e o Vento, nas águas do lago. Suavemente

Silêncio.

Silêncio.

Amanhecia. Quantos dias houvessem passado desde a primeira vez. Pois a segunda vez veio.
O Segundo Dia das unhas dela no seu Rosto.

Para ela não fosse o Rosto, aquilo. Só um rosto que se tem na face e para nada?

Não recontar o já contado.

Porque nem sempre basta ser a Testemunha. Agora,
sintam em vocês unhas invadindo a carne, buscando lá no fundo o sangue, a Dor nele adormecido.

Despertou como um animal, uivasse.
Se erguesse no Leito.
No Escuro.
Em outra Noite, esta, passando por eles.
E Seu Peito ficou mais escuro. E a Mancha, no centro, se ampliando

E o seu Grito foi se misturar à voz do Vento passando sobre o Lago, em silêncio

Então,

silêncio e Som. E diz-se disso: Rugido de Dor.

E Espanto.


Quando amanheceu, saiu da casa para iluminar seu peito mais escuro sob o sol. Tentasse daquela Luz recuperar a Alvura, mas quando a nova Noite, o peito escureceu mais ainda, sem luz. O Centro Escuro,

escurecendo.


E no novo amanhecer, novamente tentasse: a Brancura perdida, sob o Sol.
Mas não vendo a Luz sem Sol,

não entendendo que a Luz só usasse o Sol para se manifestar, visível,

e não sabendo ver a Luz em si,

e pensando que era o Fogo do Sol que acendia aquela Luz,

como pudesse então restaurar a Brancura?
Peito escurecido.
E ficasse apenas se queimando mais ainda no fogo do sol, e à noite, na outra que veio

foi dormir,

mas não adormecia mais aquele peito, que pulsava, no Escuro,
mais escuro ainda


Aqueles dois.

Ele, Ela
Ela, Ele

Jamais teria havido um Nós não separando aqueles

2?


E a Luz também escurecendo no fundo dos Seus Olhos


Pois, antes, sim

teria havido um Nós

o

1

o nÓ


tendo pousado neles e os atado. Um ao outro, atados. Não para sempre?
Não
Para sempre não


Deixem eu lhes contar como se deu.
Quero dizer: Aquela Luz se dando a eles,

que havia vindo.
Antes destes dias de unhas, as Unhas,
e sangue coagulado, e peito Negro.

E Onde o Perdão? Qual seu Lugar agora no Escuro que crescia entre aqueles dois,

ah

aqueles dois, ele ela eles


Estavam
um dia na lentidão do Lago.

As Lentidões que nos preparam para as Dádivas.
Vocês sabem como é, como são
as Lentidões que nos preparam para Dádivas

- Sabem?


e na lentidão do Lago, as águas passando lá, mas não, como depois passariam nos olhos dele, e dela, como verão

porque ainda não havia vindo o tempo das Lágrimas


Então,
a lentidão, o Lago, a Lentidão das águas penetrando neles e reduzindo as vertigens do sangue, neles,

do Céu desceu uma Luz,

subitamente

que mergulhou seus Olhos na vastidão profunda do Céu
nos Seus Olhos.

E neles se instalou,
Se acrescentou.
A eles se Doou.
Se fundiu.


Como em todos nós, havendo olhos sem luz, no mais atrás dos olhos mesmo que por fora se olhe e se veja e se diga:
que olhos Claros, os teus

como em todos nós, neles, também, uns olhos, por trás dos olhos, numa penumbra, e sem Luz.


Mas aquela Luz, do Céu,
o Lago,
as Lentidões
não havia ainda lágrimas, seu Tempo ainda não chegara

e aquela Luz, descendo, Céu abaixo seus olhos

- Cintilaram.

Ah.
E foi um Fulgor com suas próprias Claridades, diz-se disso:

o aMor: a Miragem de Cinzas
pois quem poderia se manter encoberto Face ao que, a cada vez, nunca declina? Nos pergunta, em Heráclito, O obscuro

Se viram como não se vendo.
Ela e Ele, eles.
Que antes, se vendo, não se viam.
Era a Luz. Do Céu, descida
que Eleva.

Vocês sabem como é

Sabem?


E o Nós veio para aqueles dois

e 1+1=1.

oh, a Graça recebida
Em plenos Olhos, plenamente

Com esses Olhos se viram longamente, profundamente.
E eram como Um Só se vendo.
Adormecessem se vendo em sonhos, e nem pálpebras baixadas punham fim aquilo.
Aquilo. O Todo Encanto

Como saberiam como é, se vocês fossem

O Todo Encanto


Se esqueceram seus nomes, pois havendo se tornado

O Nome:

o aMor

o noMe aMor,

mas já Sem Nome.


E ela se tornou o Seu Nome dele, e ele o Seu Nome Dela.

E assim, agora os Inomináveis,
se ouvissem, sem dizer
se diziam, sem falar.

Toda palavra abolida, vã. E os dias passassem, por eles, sem passar
Passando

E a Água no Lago, passando. Mas

o Lago não se movia do Lugar.

Enquanto, neles, algo Oh

algo se Movia.

o Vão. Vindo


Fosse o que aquele movimento, que no início não se percebia, e aos poucos já se pressentia, e aos poucos velozmente já saía por seus olhos

- a Luz dos Céus, doada, a Doada, a eles,

fugindo?
por que todo Surgimento já se inclina para seu Ocultamento, ó Obscuro?
Não saberemos o que se deu. Não sabemos essas coisas, em nós, se existindo por elas mesmas, como Sonhos, devorados, vindo

e É em nós.

O Certo é que um dia, nela,
as Unhas.

e nele o sangue. A coagulação se dando, a Cicatriz
foram muitas as cicatrizes se formando

o Peito Escurecendo.

E onde,
Onde
O Lugar do Perdão?


Fosse o Animal despertando, neles vindo à tona, novamente,
E outra vez sua Sombra cobrindo a Luz do Céu, doada?

A Doada, ah

Há esses dois, agora



No Lago,
As águas não se agitam. Passam
e, imóveis, o Lago e o Vento:

as Testemunhas da Tristeza.


A Casa fica perto do lago. Mas agora tão longe


Entre a Casa e o Lago se instalou uma presença escura,
a fechada passagem.

Diz-se: a Vida, quando se torna Pedra sem Luz.

Como se o Sol houvesse morrido até para o Fogo, que é seu Dom de iluminar incêndios


A Pedra Escura
entre eles e o lago

a Presença Negra, agora.


Nem vissem aquela Pedra, noturna, assim instalada entre seus olhos e a impossível visão dos seus Rostos no Espelho, diz-se: de Água,
do Lago
de Luz.

Já nem vissem.


Depois vieram os dias em que, tendo rasgado mais uma vez mais vez a carne do seu Rosto,
que nem rosto rostinho de nada já havendo se tornado

vieram os dias das Quedas das unhas

e se ela rasgava a carne
com Olhos Escuros,

e o peito dele, a Mancha no Centro se ampliando,

mais se enegrecia

- as unhas dela caíam. Ficavam ali, por ali, espalhadas pela terra, aos pés dele,

se afogando em lágrimas, em sangue.

E ele se curvava como quem está sofrendo,
se curva,
mas não era pela Dor:

apanhava as unhas, Colhia. Uma a uma,
e as depositava nas mãos dela,
estendidas.


Recolocava as unhas, uma a uma.
Ela.

Os dias passavam, agora Passando, e para sempre, para eles, esses dias que nunca mais retornassem
os perdidos, para sempre, no Escuro

Dia e Noite

toda a vida escura para ela e ele, agora


E outro dia vindo,
outra vez as Unhas voltaram ao rosto de nada dele,
havendo voltado às mãos dela.


Caíam, as unhas, após a carne, ferida, rasgada, o Sangue, a Coagulação, a Cicatriz se formando, embranquecendo outra vez, no Peito a Mancha cada vez mais negra: a Negra


E onde,

Onde?
- O Lugar do Perdão?


Houvesse nele um Sentimento de Estrelas,
houvesse,
porém,
O Apesar,


pois depressa deu para colher as unhas com gestos não de semeador mas de colhedor de Sementes,
e já não as punhas nas palmas das mãos dela,
as estendidas

Em vez, colhidas as Sementes Unhas,
semeava, uma a uma, as Unhas
novamente nos dedos dela

o Gentil

ah Suavemente

Pretendesse assim transformar aquelas Unhas de Dores em Lã de Ternura?

Convertê-las?

pretendesse

pretendesse

pretendesse




lá,

está lá o Lago, que não se move,
o Vento, imóvel

Testemunhando isso: o Pretendesse, dele,

renovando o Pretendente

dela


pois queria,
ah,
ele e Ela

e como ele queria achar, com suas mãos em Sonhos, o Lugar, o Espelho

perdido,

no seu Peito Enegrecido,

do Perdão





Fim de Aqueles dois, Ali: Ele





e agora leiam este Tecido de Palavras não como Antes foi tecido, Desteçam: e releiam, imaginem, invertendo as Mãos que Afagam & Apedrejam

Leiam, agora, Assim:

tarde demais
- Ela disse a Ele.
- Agora já começou a sangrar. Tarde demais, ele disse a ela, pois o sangue, após as unhas dEle, não fossem lágrimas descendo dos olhos dEla,

embora parecendo.




Mas as lágrimas logo vieram, seguindo o mesmo caminho do sangue. E, gota a gota, lágrimaSSangue, umas serpentes, deslizando, jorrando para a terra, sobre a Terra, aos seus pés.

- Tarde demais, ele dizendo.
E ela:
- Mas não te culpes, porque logo virão: o sangue coagulado, a cicatriz, e a cicatriz ficando branca, embranquecendo embranquecendo, Tu e Eu logo esqueceremos as tuas unhas ainda há pouco cravadas no meu Rosto


Foi como foi dito, e acima está escrito. E mais acima Acima



pois quem poderia se manter encoberto Face ao que, a cada vez, nunca declina?
Nos pergunta, em Herálico, O obscuro


- a Luz dos Céus, doada, a Doada, a eles,

fugindo?
por que todo Surgimento já se inclina para seu Ocultamento, ó Obscuro?
Não sabemos essas coisas, em nós, se existindo por elas mesmas, como Sonhos, devorados, vindo

e É em nós.


Há esses dois,


Lá, Aqui
No Lago,
As águas não se agitam. Passam
e, imóveis, o Lago e o Vento:

as Testemunhas





%





e se Tu lesses, em Ti, agora Uno, nem masculino nem feminino, este Tecido de Palavras antes dele ter sido tecido com Unhas pela primeira vez?
é Bem Dentro da Carne e do Espelho Sutil


Relesses, Agora assim:



# tarde demais




Fim de Aqueles dois, Ali

A viagem a Andara não tem fim



Edvard Munch A Dança da Vida 1899-1900