28 de julho de 2011

Translation

8 de julho de 2011

Kafla, Pessoa, Lautréamont: nossos fantasmas onipresentes






■RESSURREIÇÃO PELOS LIVROS: Kafka, Pessoa, Lautréamont - e mais: Musil, só devastou a Literatura contemporânea nos vinte anos que passou escrevendo O Homem Sem Qualidade mantido e alimentado pelos amigos - Joyce passou outros tantos vagando por uma Europa deserta com o fardo das mil páginas manuscritas de Ulisses, até ser publicaeita graças a amigos - e outros que em grande solidão passaram por nós e nem vimos - vieram e se foram anônimos: nossa espécie leviana só acredida em ressurreições: após a crucificação, quando o corpo some, abrem os túmulos, abrem os melancólicos cadernos baratos escritos na mão - recebem o Fulgor cegante desde a primeira e a cada página aberta - e só assim, desacordados de si e de suas omissões, pálidos, zumbis, sonâmbulos que o morto retornando - agora definitivamente poderoso e irresistível, livre do Ente, agora Ser que não aceita mais nenhum Não humano, exceto o que ainda achamos que foi sua Morte - passa a arrastar, possuídos, conduzidos por essas palavras - sob encantamento, e como que em sonhos. E para onde nos conduzem esses fantasmas Kafka, Pessoa, Lautréamont - e é terrível que os sacrificados pelos nossos silêncios sejam sempre os mais Belos - assim desacordados? Não para os muros da vingança - são muito luminosos para isso: eles nos entendem e nos lamentam, com feroz resignação. Então, para Onde? Para dentro de nós mesmos. E agora, em suas companhias impressas em nossas vidas, nos dão uma oportunidade de, como eles, mas de nossa morte-em-vida - também RESSUSCITARMOS PELOS SEUS LIVROS. Quantos reconhecerão e saberão por em prática transformadora essa Dádiva, e ressuscitarão? vFc


* Dali, renomeado Ressurreição


Vicente Franz Cecim

Viagem a Andara oO livro invisível



VOZES DE ANDARA

http://cecimvozesdeandara.blogspot.com

5 de julho de 2011

Na Penumbra Andara








Diálogo com Jan
I
Andara:Duchamp:Bosch:Van Gogh:Apocalipse:
Cicatrizes perfeitas


Jan,
sobre Duchamp e Andara:
quando eu falo que sou um Sonhador Prático, como Duchamp, é apenas para os idiotas entenderem que não existe necessariamente um dialismo rígido entre a metade esquerda e a direita do cérebro - ou mais diretamente: que não é por sonhar Andara que eu não mantenho um olho aberto sobre a estupidez do mundo manifesto ao meu redor - quer dizer, sonhar não é se alienar, ao contrário: é um engajamento profundo, e já qiue falaste de Dostoiévski, um engajamento no Subsolo Humano

O Duchamp perturba instalando pregos em um ferro de engomar

Em Andara - te disse - não há nada da civilização, nem seus valores, nem seus símbolos, muito menos seus utensílios: televisões, aviões, luz elétrica - que são substituidos pela luz das estrelas e a emitida pelas coisa - segundo a alquimia de Paracelso - pelas asas negras e brancas de aves e anjos, e pelas Visões reveladoras dos personagens

Eu vou para o combate direto com esta Civilização dizendo - é em Os jardins e a noite - que Andara é a floresta retornando sobre a cilização que a expulsou

Mas o combate essencial em Andara é a subversão da linguagem, e a emersão de outras realidades submersas - mantidas submersas: por isso eles precisaram de Freud, para ver seus abismos obscuros: o Inconsciente - embora eu não me sinta dividido em Consciência e Inconsciêncis: por vivo em uma Esfera que é toda Consciência: como submerso em um Oceano, cavidade esférica onde apenas se dá que quanto mais à tona, mais claro, e quanto mais no fundo, mais escuro
Nesse sentido certamente Andara é Hieronimus Bosch, Breughel - mas tudo em demanda de uma Ascensão, indo para a Noite Estrelada de Van Gogh, meu mais amado entre os que pintam
Digamos, então, que Andara é um universo imaginário mais Medieval do que Moderno
E até mais ancestral, se eu levar em conta o que disse um crítico francês, do Le Monde, Jean de tal, após passar por Belém e levar livros de Andara para Paris, me mandando um e-mail: - Tu escreves como João Evangelista, o Discípulo Dileto
Não sou discípulo dileto nem detestado de ninguém: tenho cúmplices que me precederam e que virão depois de mim como eu vim depois deles: Kafka, Beckett, Guimarães Rosa, Rulfo, Gombriwicz, Bruno Schulz, Céline, Giono, Swift, Cervantes, Barthazar Gracián - digo com Alegria seus Nomes, e ainda: Vallejo, Lautréamont, Pessoa, Trakl, Celan, Rilke, Novalis, Hoelderling - deixem que eu os Conclame todos ainda mais uma vez
Então, não como discípulo - muito menos como alguém que sofre de uma Ansiedade de influência e quer mater seus antecessores, ou mestres, como acusa um tanto apostando em uma posição pessoal Harold Bloom - mas me situando no que Shitao, o Monge da Abóbara Amarga, em sua cintilante compreensão da Criação como A Pincelada Única: ato unido ao Cosmos todo, descendo, um Único Gesto, sem maiores reflexões da mante humana, pelo corpo humano até a mão, o pincel ou lápis, e a tela ou papel ou a mão virtual que escreve palavras e pinta imagens que não deixam rastros - então, recomeçando, sem me sentir seguidor de nada e ninguém - e lembrando a afirmação de Shitao: - Não sigo nenhum mestre, eles é que me seguem - o que nos leva a Borges dizendo que Kafka criou seus predecessores - achei que havia algo de João em mim
parece que sim: e já que vês Bosch em Andara, também acho que sim

então: O Jardims das Delícias e o Apocalipse - se este, escrito por João de Patmos, tiver sido escrito pelo mesmo João que num dos Evasgelhos escreveu: - No Princípio era o Verbo, e o Verbo se fez Carne
Essa Carne que os pregos de Duchamp querem dilacerar - e eu gostaria de Cicatrizar, mas pelo sangue derramado com Ternura
pois não há Cicatriz sem sangrar, não é?

No Centro da Amizade,

aVe,
vFcecim

# Em nosso próximo encontro me lembras de falar sobre o meu Sonho de um dia os homens descobrirem que podem viver na Cicatriz Perfeita - aquela que já existe, antes da Ferida acontecer



II
Andara: oO


Jan,

o que é bom em nossos diálogos - é que fazemos muitas perguntas e damos poucas respostas: e Isso é Andara: no Obscuro, em demanda de Luz, e depois - compreendo que do escuro não se atinge a luz e passando a se dirigir, sem se contorcer mais tanto em duas vias - à Penumbra: a Vida se abrindo em mil e uma hipóteses - e o que o místico senão uma imensa hipótese de Eternidade sonhada - e o que são os Sonhos senão Hipóteses, e por isso libertam do nosso claro-escuro desperto - a partir do Efêmero das coisas manifestas, que são todo este visível ao nosso redor - e em nós?

Quanto ao visível e ao Invisível, o primeiro livro visível de Andara - A asa e a serpente - em 1979 fazia a abertura ao Livro Invisível e a Viagem a Andara, sob o signo de

atravessar o que nos nega, chegar ao Sim: e é assim que tu verás um S nestes dias cegos

a frase que - junto com o que se lerá no início da Viagem - atua como uma orientação, incerta - pois também é uma hipótese: de que existam um Sim - podemos erguer um Imaginário com a matéria prima visível? - embora firme no sentir que há nãos resistindo as nossas viagens humanas, por todos os lados, e em toda parte - metade dessa resistência se dando, oh, dentro de nós


Viagem a Andara oO livro invisível



Tu escreves um livro com tinta invisível

Por que fazes isso?




Nós somos homens invisível
Depois de nascidos, visíveis.
Entre o início invisível e o invisível final, nós somos os homens visíveis.
Aproveitemos para nos ver

E então ir escrevendo outros livros, nestes Jardins, todas essas Asas, para que um livro vá se fazendo.
Mas não em si. Dele não se verá nem sombra das palavras no papel.
Viagem a Andara
O não-livro. Não existe, não existe
Literatura fantasma.
Não foi escrito.
Enquanto texto, tudo o que teremos dele é um título


E a pergunta seguinte é:
E o que são livros, os livros que se escreve
Livros de Andara.
Livros-miragens. Pois uma vez escrita, da vida só resta a alucinação literária

Situação dos livros de Andara: condenados à visibilidade para que Viagem a Andara oO livro invisível
possa existir como pura ilusão.

Andara, a viagem ela mesma, nunca será escrita diretamente.

E ela está começando assim



A asa e a serpente [primeiro livro visível de Andara ]


Minha mão direita está cuidando da direita como se fossem dois irmãos

E há aves caindo do céu e se transformando em terra. A mão direita que ainda mata

(...)


Esta viagem a Andara
E aonde mais?
Na vida.
Andara é perto e longe. Andara está dentro de ti. E fora. E dentro de mim.
Diz a voz


(...)


Se alguém entende estas palavras iniciais, toda a Viagem se abre, pelo menos, subjetivamente a ser percorrida vivencialmente, reflexivamente, sobretudo contemplativamente: pois Andara nasce e se Nutre da relação entre reflexos mútuos entre os livros visíveis e o Livro Invisível - relação que certamente é limitada pelo meu pequeno logos, humano, mas sabendo que seria pura expansão sem fim nem finalidade, quando o mesmo ocorre entre as emanações criativas do Uno - e disso Plotino nos diz, sempre muito Belo, que: O Imanifesto manifesta o Manifesto e este, por contemplação do Manifesto - logo, curiosamente, voltado para trás e para Ele, Manifesto - manifesta, por analogia com o mesmo processo original emanante, o Espírito - após a Hipótese Andara, não tenhamos mais tanto medo das grandes palavras: nela tudo é permitido - que voltado para o Manifesto, manifesta a Alma, que voltada para o Espírito, manifesta o corpo

E eis: estamos aqui, sobre uma das esferas girantes num Cosmos que é Pura Hipótese, homens, ora de cabeça para baixo, ora para o alto - mas ainda tentando nos manter de pé, e vacilantes tantos séculos após a transmutação das patas dianteira em mãos: origem de toda a Civilização concebida idealmente para nos proteger - como um outro céu - mas construída, na prática, em uma das dimensões possível da existência, a mais hostil, pois é a que o Demiurgo denunciado pela Gnose como criador imperfeito, engendrou


Como regressar ao Céu que o Imanifesto manifestou?
Segundo Plotino: contemplando o Imanifesto que permanece Invisível - em nós, no Profundo em nós

Então, na dimensão do Demiurgo: escrever livros visíveis
Na nãoDimensão do Imanifesto: entrar em correspondência com Ele através de um nãoLivro

E enquanto nos falamos, entre nós, com bocas
Falar com o Uno da única maneira possível: Sem Boca

Isso é a Viagem a Andara:


Situação dos livros de Andara: condenados à visibilidade para que Viagem a Andara oO livro invisível
possa existir como pura ilusão.

Andara, a viagem ela mesma, nunca será escrita diretamente.


Tu dizes, J:

O mundo já teve visionários - de novo me refiro a Hieronymus Bosch (e não somente o apocalyptico), pensei numa Hildegard von Bingen - que nos ensinavam como sonhar desperto. E acho que realmente e verdadeiramente o que as religiões (originais) procuram é aquele desligamento do mundo visível, tangível. O que é rezar se não entrar no misticismo percebível?
Já numa ocasião te referiste a Bach, no momento não acreditava numa ligação de Andara com as fugas, e nem agora acredito. Penso mais nas músicas pentatonais, estilo Gregoriano, por exemplo, ou nos mantras do Budhismo. Mais, e isso me surpreendeu - escutando uma obra do Stockhausen (o primeiro compositor de música eletrônica) tive visões de Andara. Agora te pergunto: se isso é todo eletrônico (quer dizer a-natural), como manter a naturalidade das Andares??


E eu enfim alguma coisa posso responder:

Quanto a Bach ter contaminado a tessitura musical de Andara: sim:
por isso Andara é fuga do manifesto através dos caminhos semicegos dos livros visíveis que escrevo, aliás, que se inscrevem em Mim

Quanto a Bosche ter contaminado a tessitura verbal de Andara, sim:
por isso Andara sendo região intermediaria entre a Terra e o Céu, espelho de reflexos entre o visível e o Invisível que está por trás das nuvens e das estrelas

Quanto a Hildegard von Binger, veio depois, já durante a Viagem, uma das confirmações doadas por outro homem à minha necessidade de sonhar desperto

Também se ouve Cantos Gregorianos em Andara? Sim
E mantas do Budhismo? Sim: mantras de todas as espécies, sobretudo os silenciosos: páginas em branco cantam enquanto as palavras falam, às vezes rosnam, ainda o Animal em nós

E Stockhausen?

Quando ele transportou a Música dos homens aqui na Terra até os Sons ecoantes no Cosmos, parece que buscava o que busquei:
transfigurar a Literatura em Escritura - buscar o Primordial, Raízes - retornar à Raiz de tudo

E como Andara se consente ser habitadas por tantos visitantes estrangeiros a ela?

Assim: sendo Lugar Sem Lugar
Ou: Lugar de Nenhum Lugar


E assim poder ser Lugar de Todos os Lugares

aVe.
vFcecim


III
No Tempo da Hipótese






da transfiguração da Amazônia em Andara e do Manifesto Curau em defesa da região

ENTREVISTA DE VFCECIM NA UNIVERSIDADE LIVRE DE BERLIM


e disso nasce uma delicada Teia de Espelhos e quase insuportável Tensão: Tensão que só pudesse ser manifestada se Andara se desse em um outro espaçotempo que não mais o da Literatura instalada ora no Presente, ora no Passado, ora no Futuro, mesmo quando ela, a Literatura, mescla todos esses modos de tempo numa só Espessura de Tempo. Espessuras comunicantes. Para Andara, nada disso resolvia mais: a sua exigência extrema, a exigência que me fazia e continua fazendo, desde seu início até hoje, é a de uma Abolição de qualquer Espessura.
Andara, mais que uma região sonhada no Cosmos, tem sido para mim uma estranha Residência,
exposta a todos os Ventos, onde tenho habitado desde que iniciei a Viagem.
Sob essa pressão, aonde ela me conduziu aos meus limites, junto com os sem-limites dela, os sem-limites em que queria se instaurar, explodi para fora e para dentro de mim num Tempo Verbal que fosse o Único em que Andara pudesse se dar, não se dando, e falar não se falando, entre o Invisível e o Visível: o Tempo da Hipótese. Sem habitar o Tempo da Hipótese, na Vida como na Arte, não se entende nada.

Vicente Franz Cecim
Viagem a Andara oO livro invisível

VOZES DE ANDARA
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