22 de setembro de 2010

Sonhar com sombras





Vicente Franz Cecim



tu


estrela: Ó Longe se não me vês aqui


Não
porque sobre toda a Terra é Noite de dias nunca mais

mas porque para Ti, aí, na Luz


una ao Uno,


ainda não nasci

sonhando sombras



IMAGEM: Terra com a Via Láctea no horizonte


5 de agosto de 2010

6 de julho de 2010

Fonte dos que dormem/filme vFcecim




Para assistir Fonte dos que dormem acesse:
http://vimeo.com/13074604



Cecim: KinemAndara on Vimeo


vimeo.com exibe filmes realizados pelo escritor e cineasta Vicente Franz Cecim, nascido no Brasil, Amazônia, em Belém do Pará. KinemAndara é o título geral de sua obra cinematográfica. Viagem a Andara é o título geral de sua obra literária.







28 de junho de 2010

Ian Curtis: Atmosphere



Diálogo Virtual

MSN - RG diz em 26 de junho de 2010 (13:32):

Tenho algumas questões sobre Ó Serdespanto, é um grande livro. Brota do escuro da terra, do silêncio, como todas as grandes obras, e não da luz como acreditavam os iluministas. Fiquei muito feliz e instigado durante a leitura, que tão cedo não tem fim.

MSN - vFc diz (13:35):

É, sem fim - o Espanto do Universo não tem fim - se tivesse, fenecia - seria queimado pois uma Luz, tão plena que clareando todos os recantos, dissolveria o Espanto, a Vida? Por isso: Ó Serdespanto. Por isso toda Andara demanda o Lugar da Penumbra - descobriu que o Claro oculta o Escuro que Oculta o Claro e que a Penumbra acolhe ambos, e nEla se vê tanto no Claro quanto no Escuro. Ou nada. Andara sendo isso, o que mais seria - há o espelho suspeito da Vida que se vela se mostrando. Falaremos mais disso.

MSN - RG diz (13:40):

Para acompanhar a leitura de Ó Serdespanto, estou lendo O Ser e o Nada, Sartre, e Ser e Tempo, Heidegger, estes livros têm me ajudado bastante. Tu poderias indicar mais algumas leituras que possam me conduzir ao Escuro da Semente?

MSN - vFc diz (13:43):

Tu mesmo, em ti: faz Pausas - cai em Vazios - perde tudo durante uma duração - te imerge todo no Todo, onde já estás, aliás - vê os Vários no Um - percebe que és pequeno um no Um grande e um dos vários no Varios. Isso. Os livros podem ou} desvelar ou} velar ou} dar apenas um primeiro impulso e deixar o Ser sozinho com a sua semente de não-Ser.

Mas se queres outras companhias humanas seguras, complementares, busca Parmênides e Heráclito e te situa bem no Centro do que apenas parece dividir o Ser Imóvel de Parmênides e o Ser Móvel do Heráclito

Mas se encostar numa Árvore ou ficar olhando as Estrelas enquanto o Tempo passa, pode agir mais Repousando mais dentro de ti.

23 de junho de 2010

Ao Ser em sua Clareira



. À divindade agrada o jogo de criar, a criatura é o seu gosto de brincar, diz Angelus Silesius. Está em Silencioso como o Paraíso, livro de Andara.
. Assim, também. A vida vivida é real, mas a vida escrita não é real.

. Para que serve então a vida-escrita?
. - É um instrumento, para ver, tentar abrir, dobra a dobra,
. insistindo
. a vida real

. E por que alguém escreve?
. Para isso, o que foi dito acima, tentar abrir, dobra a dobra, insistindo



Fragmento de: Ó Serdespento/Viagem a Andara oO livro invisível/Vicente Franz Cecim

18 de junho de 2010

VISÕES DE ANDARA: Valério Fiel da Costa



Sobre esta peça: concepção, ensaios e apresentação


ENSAIOS
Parte do ensaio fotográfico realizado por Gabriela Canale em Paranapiacaba (SP) durante as filmagens de "Prólogo de Susto": parte filmográfica da performance "Visões de Andara":







VISÕES DE ANDARA
Valério Fiel da Costa e Gabriela Canale

Uma obra musical baseada no universo onírico do escritor paraense Vicente Franz Cecim sempre esteve nos meus planos desde 2004, quando, pela primeira vez, li um de seus livros. Nessa época fui apresentado a diversos autores da literatura paraense (Haroldo Maranhão, Dalcídio Jurandir, Paulo Plínio Abreu, Maria Lucia de Medeiros, Mario Faustino, Max Martins, etc), por amigos críticos literários de Belém. Apesar de paraense, nunca tinha prestado muita atenção à literatura do Pará e fiquei francamente impressionado com a sua qualidade técnica e riqueza criativa.
Vicente me foi apresentado nesta época e logo ficamos amigos. Li seus livros: A Asa e a Serpente, Animais da Terra, Os Jardins e a Noite, Terra da sombra e do Não, Diante de ti só verás o Atlântico, Ó Serdespanto, etc. Identifiquei-me imediatamente com sua escritura, com seu jeito de falar sobre qualquer coisa e em como isso se refletia naquilo que escrevia.
Cecim se ocupa desde fins dos anos 70 com a materialização (o desvelar) de uma série de livros: os livros invisíveis de Andara, a região onírica que às vezes é identificada pelo autor com uma “Amazônia transfigurada”, de onde surgiram diversos personagens-gestos cuja articulação com o espaço e com o tempo sofre o impacto de uma imaginação à deriva para a qual tudo ou nada pode acontecer. Cecim escreve como quem declama e o ritmo daquilo que se fixa ao papel geralmente está expresso no modo como os itens são dispostos na página. Se é necessário refletir sobre algo dito, há silêncio: silêncio como medida da importância das coisas; um raciocínio, porém, geralmente se completa sem interrupções formais, o que gera em sua continuidade acentos mais ou menos salientes. Na verdade não é a importância semântica de tais eventos que determinam seu peso no contexto e sim a mera ocasião de fixá-los: tem-se muito ou pouco a falar sobre determinado assunto, fala-se, cala-se, segue-se. Acontecimentos semi-autônomos que, no entanto, desempenham de forma eficaz sua função de levar a estória adiante. Uma estória em quadros em sequência que poderia muito bem serem permutados ao acaso e continuar funcionando como nexo de algo, mas isso se deve mais ao fato de serem parte de um mesmo fôlego, do que estarem implicados num minucioso projeto subliminar. Graças a isso não há em sua escritura a figura do clímax, pelo menos não como objetivo da trama: às vezes o narrador pode desistir de continuar, pode optar por dois finais alternativos, pode mudar de assunto, pode concentrar-se num momento especial e depois não fazer mais menção a este, pode deter-se longamente num objeto sem importância, pode interromper a narrativa para falar ao leitor em segunda pessoa, pode expressar no papel, inclusive, suas dúvidas a respeito do que virá ou deveria vir em seguida, como alguém que fala sozinho pelas ruas.
Cecim, logo na nossa primeira conversa, mostrou-se um entusiasta das idéias de John Cage. Ele soube que o compositor estadunidense vinha sendo um objeto de pesquisa frequente graças ao meu interesse por preparação de pianos, uso de operações de acaso e de aspectos de cessão de decisões aos intérpretes de minhas músicas. Se faz música, Cecim improvisa em transe; se faz cinema, deixa a câmera a filmar ao acaso e depois acrescenta algum detalhe. Isso me revelou, claro, muito de sua metodologia de escritura e me aproximou de suas coisas Por outro lado o que me aproxima de Cage é diverso, uma vez que seus procedimentos de acaso visam muito mais garantias de resultado do que a tão badalada deriva que proclama em seus textos. Minha poética está tomada por ímpetos desse tipo: o equilíbrio entre aquilo que se deixa levar e aquilo que precisa ficar como está. E todo um aparato técnico se faz necessário para que isso cumpra seus objetivos... tal qual ocorre em Cage, porém de forma mais ou menos dissimulada (mas isso é assunto para outra – longa – conversa).
Em “Visões de Andara” optei por usar como mote a sensação que me vem ao ler seus contos: estou em Andara, sofro seu impacto, mas, ao mesmo tempo, não consigo apreendê-la completamente em termos de contornos. As coisas acontecem e estamos dentro delas como num veículo à deriva: vozes soam, coisas surgem, ventos sopram, personagens vem e vão, mudam de nome, se perdem na bruma, morrem e renascem, são esquecidos, estão em todos os lugares, falam contigo e/ou te ignoram. Paira no ar um clima de mistério, de onirismo, que te envolve completamente. É bastante provável que aquelas figuras e situações sejam mesmo fruto de uns tantos sonhos do autor. O que é fantástico é que Cecim consegue transferir, para aquilo que escreve, aquele ‘lugar’ do sonho onde estamos sempre em perigo, onde, a qualquer momento, pode surgir uma fera que te devore.
A peça está dividida, não em movimentos, mas em camadas. São 3 ‘sets’ instrumentais: sintetizador + sons gravados; guitarra + sons gravados e objetos amplificados + sons gravados, tocados simultaneamente, sendo que cada um possui grande autonomia, no que diz respeito às suas regras internas, em relacão aos outros. Como cada set se encontra distanciado dos outros 2 no espaço de performance, e como suas informações sonoras são exclusivas, o ponto de fruição de cada ouvinte no espaço determina o que irá ouvir (que estória vai ouvir) de forma predominante. Ao mesmo tempo, o ambiente está saturado de informações sonoras dos outros sets gerando uma aura sonora dentro da qual ele se encontra imerso.
Tal qual os momentos de Andara, meus momentos são re-combináveis (a lá Stockhausen). De fato não segui um sequência linear para compô-los: escolhi para cada set um personagem, dividí-o em 6 aspectos relevantes e defini uma sequência de acordo com razões musicais. Cada aspecto é articulado por um ímpeto definido que vai do absolutamente suave e mântrico até o mais agressivo e mesmo violento. Quanto mais suave o módulo, mais material melódico usa e mais tempo para desenvolvê-lo o intérprete tem; quanto mais agressivo o módulo, menos notas e menos tempo para desenvolver. Esse foi o critério. Temos portanto uma sobreposição de ímpetos, referentes a cada personagem dentro de sua estória, deslocados no espaço e embaralhados no tempo.
Para garantir uma coerência geral (para que não saiamos do “espaço” delimitado), uso apenas uma escala diminuta: dó, ré, mi bemol, fá, sol bemol, lá bemol, lá e sí, para todos os sets. Os mesmos sons e combinações sonoras flutuando no ambiente durante 30 minutos.
Os personagens escolhidos foram 1) Caminá (Animais da Terra), a mulher alada que mora com Jacinto numa plantação de urtigas e que, presa a uma cadeira, sofre a cópula da floresta gerando um deus vermelho: set de copos de cristal, copos de vidro e superfície atritante que toco e que está posicionada no fundo da cena; 2) Nazareno (A Asa e a Serpente), o ressuscitado que retorna com seu caixão, se instala numa calçada em Santa Maria do Grão e é responsável por uma catástrofe miltar: set de sintetizador (Henrique Iwao), posicionado à esquerda e avançado (noroeste-leste) em relação ao público; 3) Rebanho (Diante de ti só Verás o Atlântico), o grupo não identificável de seres que, pastorados por Josiel/Sião Diadoné/Inácio Verena/Josiel, buscam fugir à enchente atingindo a ilha da salvação: guitarra (Mário Del Nunzio), posicionado à direita recuado (sudeste-oeste).
Para completar a cena, convidei a excelente artista visual Gabriela Canale para criar um cenário, figurinos e projeções cujo objetivo seria o de completar a imersão em Andara. Deixo que ela fale sobre o seu processo criativo dentro do projeto...



MAIS DO QUE NARRAR PERSONAGENS, PERCEBER UM ETHOS
Gabriela Canale

O que mais me interessa neste projeto é a possibilidade de propôr uma existência visual para a linguagem singularíssima de Cecim que equilibra poesia, fábula e romance. Para tanto criei uma obra audiovisual imersiva, um espaço em que os visitantes adentram o realismo fantástico de Andara - o mundo de fábula e letargia - através da porta da metalinguagem (como um aviso, um alerta de que se separa a ficção do real).
As imagens projetadas em duas telas propõem uma experiência sensorial que revela o ethos de imaginação, sonho e memória de Cecim que é apresentado em camadas que se descortinam lentamente para complementar as composições do Valério.
As sobreposições seguem livremente os acontecimentos do “prólogo de susto” de Ó Serdespanto (2006). As imagens são definidas por alguém que espreita o mundo de sabedorias vegetais. A proposta é criar um espaço imersivo, uma ambiência Andara. Este lugar se apresenta espacialmente como um lugar de Morpheu, em que a matéria vegetal, natural, literária e humana se presentificam com uma lógica outra, como num sonho mesmo, em um mundo de susto e descobrimento infantil em um mundo fabular, como a àrvore que conta aos três homens no prólogo de Ó Serdespanto. No nosso caso, os homens são os três músicos, que contam a fábula aos visitantes.




LINK PARA ENSAIO
http://www.ibrasotope.com.br/conexoes/pecas/peca/6/concepcao

10 de junho de 2010

Visões de Andara por Valério Fiel da Costa




Sobre esta peça: concepção, ensaios e apresentação


Vicente Franz Cecim refere-se às suas publicações como parte do livro visível de Andara dando a entender que há ainda muitos, talvez infinitos, livros invisíveis a serem revelados. O autor operaria como um receptáculo de informações oriundas deste universo paralelo que poderia ser entendido, segundo o próprio autor, como uma Amazônia transfigurada em região-metáfora da vida em que o sobrenatural emerge em epifania. Dentro dessa região fantasma que é Andara, proliferam entidades-personagens curiosos como o Cego Dias (Os Jardins e a Noite – 1981) que passa a ver-ouvir as mensagens do vento depois de ser cegado pelo misterioso pássaro Curau ou como a desejada Caminá (Animais da Terra – 1980) ser alado vinculado a uma plantação de urtigas cuja cópula com a natureza faz nascer um deus vermelho. É a partir do dado dessa translúcida invisibilidade de onde emergem tais seres-situações visíveis de Andara que pretende-se operar na atual proposta de obra.

Visões de Andara: A idéia poética desta cena musical é a de criar um ambiente de imersão que represente não uma sequência de eventos de Andara, mas que possa transferir o ouvinte ao seus domínios fazendo-o experimentar o processo de emergência de situações mais ou menos palpável dentro de tal contexto. É como se o ouvinte estivesse dentro de um barco à deriva onde, a partir de determinado momento, toda a expectativa a respeito do que virá em seguida é esvaziada sendo o mesmo impelido a fundir-se ao contexto sonoro-visual entendido agora como dado concreto e inescapável. É dentro de tal transe que ocorrerão os eventos significativos que transportarão o ouvinte para as entranhas de Andara: sons característicos, imagens projetadas sobre o espaço, sons gravados, textos, que surgem aos balbucios, configurando-se aos poucos como coisa inteligível, até conseguirmos ver a região metáfora com os nossos próprios (novos) olhos. O livro de Andara tornando-se visível diante de nós.



Valério Fiel da Costa nasceu em Belterra, Pará, Amazônia. Doutor em composição pela Unicamp, fundador do grupo Artesanato Furioso. Representante brasileiro na Tribuna Internacional de Música Eletroacústica da Unesco. Professor de composição da UFPB.








LINK http://www.ibrasotope.com.br/conexoes/pecas/peca/6/concepcao








25 de maio de 2010

Barroco Infinito

Vicente Franz Cecim











O movimento de um corpo não engendra um corpo, mas uma sombra. A propagação de um som não engendra um som, mas um eco. A ação de um inexistente não engendra um inexistente, mas um existente

Lié Tsé
Tratado do Vazio Perfeito
China, Século IX AC



Já é tempo do Pensamento, por sua vocação à autoSufocação, e cada vez mais asfixiado pelo Conhecimento acumulado e amestrado pela Cultura, deixar livre, de uma vez por todas, as Obras de Criação. Para a Arte livremente se deixar penetrar por visitantes não especializados, e a Maneira desse Encontro se tornar uma mais Íntima convivência.
Se sabe: aquilo que a Razão conhece, ela afasta de si, exila como Outro. Nasce o Eu & Tu, que não é sequer nós. Plotino e o Zen nos ensinam isso.
A Razão é sempre igual a si: um Mesmo que a tudo exclui.
Não é o acesso natural à Obra, que tem a vocação oposta da autoDoação.
A Razão ergue sua Muralha duplamente, uma delas diante de si mesma.
A outra: tendo se apossado da Obra, aprisionada em suas tramas lógicas retas e lineares – ó aranha calculista, com Face humana e Dedos antiHumanos – com a Autoridade autoJustificada que se consente, volta essa Muralha, resistente embora em Ruínas, contra o visitante desprevenido.
E assim é possível permanecer imobilizado diante de uma Obra de Arte do nascimento à morte, sem Nela jamais penetrar.
Como o paciente Homem Inocente de Kafka diante da Porta da Lei.
Morri pela Beleza, diz o Poema de Emily Dickinson, quando alguém que morrera pela Verdade foi depositado na terra ao meu lado.
Esse Diálogo que se aspira sem fim, até que silêncio e limo venham cobrir nossos lábios, é o Risco do artista que se quer livre para poder gerar obras livres.
Seu Legado Libertário.
















É este o Acesso que buscamos para o Barroco Infinito, encenado & exposto por Armando Sobral.
Mas na própria Obra esse acesso se evidencia, logo em sua entrada, à direita, por um Manto pendente vazio de Corpo em suas dobras.
Para onde foi esse Corpo Nu que estava aqui, ou nunca esteve, e de qualquer modo se despiu? Está em todo o Ar do Espaço da exposição, confundido com as Sombras que os Objetos dela projetam, fundido com as Luzes que os iluminam.
Manto Barroco. Sem dúvida: suas dobras provêm da evocação de algum Santo de remotas catedrais.
Deixemos esses panos abandonados e sigamos os rastros invisíveis no Ar, do Corpo Nu, que penetrou, antes de nós, na própria Obra de que faz parte, e nela nos espera.
Já se percebeu que o convite deste Corpo sem corpo não é convite a uma mera visitação impessoal, neutra, a este espaço habitado por coisas. E ainda que fosse, não pode ser. Porque também nos sugam e fazem penetrar nesse ambiente as tábuas do assoalho, de um outro jogo de Xadrez, em preto e branco, linear, paralelo, que mergulham obra Adentro e sob os nossos pés.
E ao primeiro passo, todo o chão como que se inclina para uma Perspectiva que se estreita como Via para o Sem Fim – revelando e alegrando as limitações gloriosas do olhar humano: Farsa que lhe permite ver além de si, ver o que não o vê, íntima aliada dos olhos quando fechados sonham.
Se seduzido por essa promessa de Infinito lá no fim, que na verdade é uma parede, mas não o Muro da Razão, a poucos passos – mas isso para o Viajante da Miragem já pouca importa – o visitante penetra nesse Espaço, Barroco – mas inesperadamente despido de Espessuras e Convivências Amontoadas,
Porque aqui, este Barroco do Século XXI, todo flutua com uma despojada Leveza, seus Enigmas são fluídicos, e penetramos em um Claro Labirinto.
Onde o nosso próprio corpo se tornou leve e flui, entre Luzes & Sombras, como Ícaro experimentando a Leveza do Ar antes da Queda.
Curiosa Vivência: uma vez Dentro deste Barroco Infinito, nele Imersos, somos ao mesmo tempo Presença & Ausência.
Mérito de sua Tenuidade.
Visitantes assim também visitados.
Já não mais os antigos visitantes das Sés e sua Densidade Porosa,
seus Rostos de Pedra que nos vêem sem ver passar, sem participar da nossa cotidianidade.
Nos objetivamos na intimidade dos seus Objetos sem rostos, vagando por entre eles e os vazios que em seus intervalos nos concedem, lançados aqui e ali: Objetos ofertórios, dádivas contidas, erguidas espiritualmente em oferenda acima de patas, altares de sacrifícios, e também suas bases que não são mais grandiosos pilares mas quase móveis domésticos do dia a dia.
Enquanto eles, esses Objetos, por sua se subjetivam em nós.
E nessa Intimidade, ontologicamente Nós & Eles fenomenologicamente, nos celebramos, celebramos o nosso Encontro.
O Espaço, onde costumavam se encontrar superficialmente Homens & Coisas se converteu num Abismo, onde uns nos outros nos resvalamos, e onde realizados o que parecia impossível: nos tornamos Parentes.
É possível ouvir Murmúrios no Ar silencioso. Porque aqui tudo reina em Presenças & Ausências.
Presença pela Imersão do humano: porque estamos Dentro da Obra. A Vivendo.
Ausência porque, estando Nela, também estamos Fora e Diante dEla. A Contemplando.
Como os espreitadores do Decorrer do Tempo e da Fugacidade ante a imobilidade de um Jardim Zen.
Eis: um Ideal, que toda Obra de Arte devesse nos ofertar: sermos, no Uno que sempre somos, dois: aquele que a Vive & aquele que a Testemunha. No mesmo tempoespaço.

Lembremos:
Um Manto nos deu acesso, no rastro de um Corpo. Nu dele libertado. Nosso Guia.
E aonde nós nos levamos – Homem, Vivenciador, Testemunha – através desses Ares, desse Espaço Vazio cheio de objetos rarefeitamente nele semeados?
Esses Objetos que por sua nos Testemunham & conosco Convivem?
Deslizando pelas tábuas – um pé pisando madeira escura, o outro pisando madeira clara – em direção à parede do Fundo e à Promessa de Infinito com que a falsidade da Perspectiva nos alegra os olhos exaustos de ver o Visível Tangível,
e indo em demanda do Corpo oniausente que se livrou do Manto Inicial,
então,
toda a Presença da Matéria nos desvia para a esquerda, na forma de um Coração Vermelho,















que cravado na parede lateral – aberto Clarão de Sangue – nos recupera para o Barroso arcaico, aquele das Catedrais,
dos Santos Sangrantes,
e sua Mística Medieval, ocidental, cristã.

Recupera?

Também na porta de saída da Obra, como em sua entrada, já não há guardiões.
E somos homens livres,
e dali saímos acompanhados por objetos livres


Que bela Procissão de Sonhos: Homem & Coisa se dirigem, após a Travessia deste Barroco Infinito, enlevecido, à Origem como a tudo que, no Todo,
É & Não é

Assim: - Menos Mais sendo




Vicente Franz Cecim é autor de Viagem a Andara oO livro invisível, dos filmes KinemAndara e das MusikAndara.

19 de abril de 2010

perdida Chave dos Mistérios

Vicente Franz Cecim



Sempre



adormeces na manhã nascente

teu Carrilhão de Sombras



Ramagens, para onde em dias de Penumbra se inclinam os Teus Olhos




Haveria uma Criança, não há mais




Aquela


que Te fez Aquela mesma

que te Desfará,
por que Nome a chamarás quando esqueceres a Palavra do Verão?




Lentidões. Das mãos, para onde acenar? Memória e Mundo e Pavilhão de Luz que guardas na Fenda da Carne, no teu Bosque



Não importa o que fazes com os Teus dias



Sempre

adormecerás teu Carrilhão de Sombras




5 de abril de 2010

Umanoh



Vicente Franz Cecim









O UMANOH


Partir da Literatura: buscar a Rarefação.
O homem não é Figura: é Trans-figuração.
O umanoH através do Humano: a Meta-configuração.

Vicente Franz Cecim
Viagem a Andara oO livro invisível




THE UMANH

To leave of Literature: to search the Rarefation.
The man is not Figure: it is Trans-figuration.
The umanH through the Human being: the Meta-configuration.

Vicente Franz Cecim
Trip to Andara theThe invisible book





L'UMAINH

Partir de la Littérature : chercher à Rarefation.
L'homme n'est pas Figure : c'est Trans-figuration.
L'umainH à travers l'Humain : la Meta-configuration.

Vicente Franz Cecim
Voyage a Andara leLe livre invisible




IL UMANOH

A permesso di Letteratura: per cercare il Rarefazione.
L'uomo non è Figura: è Trans-figurazione.
L’umanoH attraverso l'dell'essere umano: la Meta-configurazione.

Vicente Franz Cecim
Viaggio a Andara ilIl libro invisibile




EL UMANOH

A la licencia de la Literatura: buscar el Rarefación.
El hombre no es Figura: es Trans-figuración.
El umanoH a través del Humano: la Meta-configuración.

Vicente Franz Cecim
Viaje a Andara elEl libro invisible



IMAGEM: Joachin Patinir/XV DC

12 de março de 2010

Bruno } Lobo do Sonho { Cecim





















Paraense nascido na cidade de Belém, o fotógrafo Bruno Cecim veio ao mundo no ano de 1978. Parte da infância foi passada em Salvador. Na adolescência, estudou um ano em Washington (EUA), mas foi em São Paulo que o fotógrafo começou a trilhar seus primeiros passos no mundo das imagens.
Filho da historiadora Silvia Castelo Branco e do escritor Vicente Franz Cecim, a arte, em suas mais diversas formas, sempre esteve presente na vida de Bruno. O ambiente familiar ainda lhe proporcionou estreita convivência com a arte. Cinema, literatura e artes plásticas sempre foram assuntos de debate dentro de casa. Foi por meio dessas conversas, aliás, que o fotógrafo descobriu o mundo da imagem. Nesse período, contou também com a ajuda do fotógrafo italiano Lamberto Scipioni, de quem foi assistente em São Paulo.
Depois de participar da realização de alguns vídeos-documentários e com o objetivo de trabalhar com direção de fotografia no cinema , Bruno sentiu a necessidade de aprimorar o olhar. A fotografia seria apenas um caminho. A descoberta, no entanto, foi tamanha, que o fotografar agora é tido como sua principal atividade.
Dedicou-se então, ao estudo da fotografia (fez diversos cursos no Senac, Sesc e etc), o fotojornalismo foi a ferramenta escolhida por Bruno para treinar o olhar. Depois, da escolha, o suor. Na agência de notícias Futura Press, Bruno descobriu a possibilidade do olhar rápido, preciso, mas ao mesmo tempo sensível, poético e humano.
Teve fotos publicadas em veículos como Folha de S.Paulo, Correio Braziliense, Diário do Nordeste, Agora São Paulo, Época e IstoÉ!. A arte continua presente no trabalho do fotógrafo que hoje faz parte do grupo de repórteres fotográfico do jornal Cruzeiro do Sul www.jcruzeiro.com.br em Sorocaba.
Seu trabalho é conhecido em diversas partes do país. Prova disto,foi o convite que recebeu para participar da mostra Foto Retrospectiva - 2007, organizada pela Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de São Paulo (Arfoc-SP), no Memorial da América Latina . A foto escolhida foi "Compaixão" , publicada em matéria sobre o enterro de adolescentes que foram vitimas de uma chacina na cidade de Votorantim (interior de São Paulo).
Foi esta visão diferenciada que rendeu a ele três vezes o Prêmio ASI de Direitos Humanos, conferido pela Associação Sorocabana de Imprensa. As fotos premiadas foram “Protesto por moradia” (2006), “A longa estrada do saber” ( 2007) e “Marcas nazistas na região" (2009).

http://www.brunocecim.com.br/blog/

Quem



para Samuel Beckett, no Oásis


por que entreabrir a Fenda
dos
Lábios de Murmúrios?

Quem
antes de ti depositou o

Ovo: no Oásis

te prometeu a Inesperança
e o Céu na Pedra
de um dia
depor aos teus pés

os Frutos de Silêncio as
coisas Turvas
que ainda não nasceram
e nunca nascerão?

então,
por Quem entreabrir a Fenda os Lábios

de Murmúrios

os


Vicente Franz Cecim

Kafka: Impaciência & Paraíso


Por impaciência fomos expulsos do Paraíso,
por impaciência não retornamos a ele.
Franz Kafka/Desenhos

Castoriades: Para escapar da miséria psíquica

Bruno Cecim: Flores Vivas


O que se requer é uma nova criação imaginária, de uma importância sem precedentes no passado, uma criação que ponha no centro da vida humana outras significações, e não apenas a expansão da produção e do consumo, que proponha objetivos de vida diferentes, e que possam ser reconhecidos pelos seres humanos como valendo a pena. {...} É essa enorme dificuldade que temos de enfrentar. Deveríamos querer uma sociedade na qual os valores econômicos deixasse de ser centrais, ou únicos, em que a economia fosse colocado no seu lugar, como simples meio de vida humana e não como seu fim último, uma sociedade na qual se renunciasse a essa corrida alucinada em direção a um consumo cada vez maior. Isso é necessário não só para evitar a destruição definitiva do meio ambiente terrestre, mas também, e sobretudo, para escapar da miséria psíquica e moral dos homens contemporâneos.



Cornelius Castoriades,
La montée de l'insignifiance
A ascenção da insignificância

4 de fevereiro de 2010

Fragmento de diálogo












Max Ernst


Percebe, isto é essencial:

- Os ocidentais são horríveis, veem a vida com medo e dor permanentemente e não estão vendo nada, é o Ego com medo de si mesmo.

- Fui ler Pascal ontem de noite, gosto dele, mas fiquei doente. Depois de ter lido o Zen e ficado todo iluminado.

- Atenção, atenção: é o mal, o venenoso, que a Civilização Ocidental nos faz. Reflete nisso, sempre que leres um deles e te sentires mal.

- É deles que Dadá fala quando alerta: Os elefantes são contagiosos.

- Então, eis a nossa Suma: Tao=Zen+Dadá=Homo Ludens. Não precisamos nos perder nessas escuridões que se passam por saberes e são imensidões de ignorâncias: Avydia, assim chama Buddha essas escuridões: Avydia, que significa algo fatal, pior que a Ignorência: significa Saber Errado. Entendes? É pior porque, estando na ilusão de que já há saber e não sabendo que esse saber errado é a Ignorância, se permanece nele. Pois se já parece um saber certo, por que buscar, sair dele? Buscar além dele?

- Horror, horror.

- Entendeste.




1 de janeiro de 2010

Vinho do encontro


Vicente Franz Cecim




Por sua chegada com o acontecimento

dos repousos


Das regiões selvagens

Por sua chegada

Por sua vinda ao Encontro


daquele que na sombra treme de prazer


sua chegada de lodo

e sua chegada de fonte


que ali é

espera e guarda à residência




De Ó Serdespanto/Música do sangue das estrelas