11 de novembro de 2009

Rimbaud: Tempo de Assassinos I: de Crianças



























Crianças vítimas dos vícios de adultos/Mikhail Shemiokin


Mundo faz 195.000.000 crianças vítimas da desnutrição


Chefes de Estado se preparam para a Cúpula sobre Segurança Alimentar em Roma, entre 16 e 18 de novembro de 2009.

Os discursos não irão alterar o estado de coisas.

O novo relatório da Unicef-Fundo das Nações Unidas para a Infância agora divulgado informa: Cerca de 195.000.000 de crianças com até 5 anos em países em desenvolvimento sofrem problemas graves de crescimento.

A causa: Desnutrição.

Unicef: Há nesses países também 129 milhões de crianças abaixo do peso na mesma faixa etária.

Unicef: A diferença nos números indica que algumas crianças podem estar recebendo alimentos de baixa qualidade, que as deixa com o peso aceitável, mas compromete seus crescimentos.

Unicef: Um terço da mortalidade infantil em crianças até cinco anos em países em desenvolvimento tem relação com a desnutrição.

136 países em desenvolvimento foram analizados.

África: A região do mundo com os piores resultados.

Brasil: O país sul-americano com o maior número de crianças desnutridas.



- Celui le temps des assassins/Arthur Rimbaud


4 de novembro de 2009

Scherazade na Amazônia: Yara Cecim







Lendário reúne os contos completos de Yara Cecim.






Mãe & Filho: Yara e o escritor Vicente Franz Cecim
A Literatura Paraense de Yara Cecim
Sámela Ramos



Yara Cecim nasceu na Amazônia, Brasil, no dia 13 de maio de 1916, no sítio Caxambu, às margens do rio Tapajós, no município de Santarém e feneceu em 23 de outubro de 2009, aos 94 anos, em Belém do Pará.
O nome da escritora, Yara, significa em tupi mãe d’água, nome que a identifica com sua obra literária, que revela a valorização sem igual dos mistérios que rondam nosso imaginário.
A escritora estreou na literatura só aos sessenta anos de idade, demonstrando que sua convivência com os mitos e lendas da região, tornaram-na uma excelente contadora de histórias, que reverte a tradição oral dos povos amazônidas para a literatura culta, transmitindo-as, assim, às novas gerações.
O ambiente em que cresceu Yara foi extremamente propício para aguçar a sua obra literária, pois em meio aos rios, as cidades ribeirinhas, as rodas de amigos que se reuniam à frente de sua casas para ouvir as estórias e “causos”, a autora cria sua arte a partir da beleza e inventividade das narrativas encantadas da região.
Infelizmente, pouco conhecemos desta tão brilhante escritora, sua obra quase não é lembrada nem entre nós, seus próprios conterrâneos. Sua colaboração ao folclore da região é muito significativa, pois sua obra literária registra as narrativas do mundo Amazônico que muitos não conhecem. Os seres encantados, como a iara, curupira, jurupari, cobra grande, parte do nosso imaginário, são temas indispensáveis nos contos de Yara Cecim. A leitura de suas narrativas nos mostram a genialidade de sua obra que atrai atenção do leitor.

A produção de Yara Cecim em ficção e poesia está reunida em cinco livros. Em 2004, lançou pela editora Cejup, “Lendário – Contos Fantásticos da Amazônia ” (seus contos completos, antes lançados nos livros “Taú-Taú e Outros contos Fantásticos da Amazônia” e "História Daqui e Dali"), uma coletânea que possui lindos contos extraídos do mundo amazônico, numa narratividade singular dos mistérios e do miticismo de nossa região.

Seu filho, o também escritor Vicente Franz Cecim, foi um dos maiores incentivadores para que Yara Cecim escrevesse suas famosas histórias, que ele já ouvia desde criança contadas pela própria mãe. Isso rendeu a ela os prêmios de literatura “Samuel MacDowell” e “Terêncio Porto”, promovidas pela Academia Paraense de Letras.
A escritora Yara Cecim é um exemplo dentre os nossos grandes literários amazônicos, que precisa ser apreciada e lida, sua obra não será esquecida, mas ficará na memória dos amantes da boa literatura de expressão amazônica.

Texto originalmente publicado em 28 de julho de 2008



Obras de Yara Cecim (1916>2009)

Ficção:
Lendário – Contos Fantástico da Amazônia (Cejup, Belém do Pará, 2004)
Taú-Taú e Outros Contos Fantásticos da Amazônia (Cejup, Belém do Pará, 1989)
Histórias Daqui e Dali (Cejup, Belém do Pará, 1993)
Poesia:
Arabescos (Cejup, Belém do Pará, 1991)
Folhas de Outono (Edição do Autor, 1983/ Cejup, Belém do Pará, 1997)


2 de novembro de 2009

Nietzsche: Os Espíritos Livres


Tarkovski


Antonioni


Huineng









Dom Quixote & Sancho









Amigos Sufi




Schopenhauer









Shitao




Alquimista de Andara















Li Pó



Van Gogh

Whitmann



















Vallejo






Pessoa














Rumi









Rulfo




















Homem contra tanques na Praça Vermelha, China






Magritte



















Michael Jacson





















Paul Éluard


























Ernst















Krishnamurti







Kafka





















Bruno & Arthur Cecim









Dostoiesvski










Jung & Eliade











Francisco de Assis








Coltrane









Celan









Beckett









Bach



Friedrich Nietzsche


E quem advinha ao menos em parte as conseqüências de toda profunda suspeita, os calafrios e angústias de isolamento, a que toda incondicional diferença do olhar condena quem dela sofre, compreenderá também com que freqüência, para me recuperar de mim, como para esquecer-me temporariamente, procurei abrigo em algum lugar – em alguma adoração, alguma inimizade, leviandade, cientificidade ou estupidez; e também por que, onde não encontrei o que precisava, tive que obtê-lo à força de artifício, de falsifica-lo, de cria-lo poeticamente para mim (- que outra coisa fizeram sempre os poetas? Para que serve toda a arte no mundo?) Mas o que sempre necessitei mais urgentemente, para minha cura e restauração própria foi a crença de não ser de tal modo solitário, de não ver assim solitariamente – uma mágica intuição de semelhança e de afinidade de olhar e desejo, um repousar na confiança da amizade, uma cegueira a dois sem interrogação nem suspeita, uma fruição de primeiros planos, de superfícies, do que é próximo e está perto, de tudo o que tem cor, pele e aparência.

Humano Demasiado Humano

1

- Foi assim que há tempos, quando necessitei, inventei para mim os "espíritos livres", aos quais é dedicado este livro melancólico-brioso que tem o titulo de Humano Demasiado Humano: não existem esses "espíritos livres", nunca existiram – mas naquele tempo, como disse, eu precisava deles como companhia, para manter a alma alegre em meio a muitos males ( doença, solidão, exílio, acedia, inatividade): como valentes confrades fantasmas com os quais proseamos e rimos....

25 de outubro de 2009

Compaixão/Visto no vazio


Vicente Franz Cecim



E então entendes:


que tudo que Passa se sonha um Eu,

e todo ser neblina quer Ser



E essa é a Origem

da Lágrima





















Um passo antes das Cinzas


Vicente Franz Cecim



Bastante silencioso

e Ausente

mas caminhando através de Onde em si há Ninguém



Um olhar mais fechado, para ser Amplo para acolher a
Constelação
que não cabe nos olhos
para não esquecer que é alguém

onde não há ninguém


E a Gotejante, ouçam: Está chamando, a cada um
pelo seu Nome
a Cada nenhum nome que não Diz

Ali,


onde a Fonte mais transforma Luz em Sombras






















Huineng: Onde pode se acumular o pó?


Quando Shenxiu escreveu este Gatha no muro no mosteiro:


O Corpo é a árvore de Bodhi,
a mente é um espelho brilhante.
Com cuidado a limpamos continuamente,
sem deixar que o pó acumule.


Huineng respondeu com este Gatha:


Bodhi não é uma árvore
nem a mente um espelho brilhante
Já que tudo é vazio em essência
onde pode o pó acumular?



Quando certa noite alguém expôs a Huineng o Sutra do Diamante, de Gautama Buda, ao chegar à passagem que diz para usar a mente e ao mesmo tempo estar livre de qualquer apego, Huineng experimentou a iluminação, percebendo que todos os Dharmas são inseparáveis da essência dos seres, e exclamou: - É maravilhoso que a natureza essencial seja originalmente pura! É maravilhoso que a natureza essencial seja não-nascida e imortal! É maravilhoso que a natureza essencial seja inerentemente completa! É maravilhoso que a natureza essencial nem se mova nem seja imóvel! É maravilhoso que todos os Dharmas procedam desta natureza essencial!




Huineng, o Sexta Patriarca Zen,
corta bambu.

16 de outubro de 2009

Sim, essa é a Voz de Andara

Vicente Franz Cecim





Onde a Literatura não é praticada como Vida e a Palavra não é praticada como Ontologia, por ressecamento da Saiva das coisas, se dá que a ave é a ave dita, e não mais como o que seja em si quando calada. Não dita.


- E como é a Voz de Andara?

- Há, nela, a noite noite. A ave ave. A água água. O sentir sentir.

Com o que se enuncia, insistindo, a coisa ou ser ou idéia ou sentimento. E essa repetição realiza a recirculação da Saiva que dá vida à coisa amortecida na palavra que somente indicia.

E sé dá outra forma de repetição, que além de persistente, é transfiguradora, assim:

A noite Noite, ou a noite: a Noite. Aquele vento: o Vento.

Com o que tudo - coisa, sentimento, visões, hipóteses - sobretudo coisas - se tornam Entes, Entidades - saem do anonimado da espécie e do gênero - ave, peixe, pedra, noite - e se tornam entes individuais Em Si - assim: a Noite não é qualquer noite - e Aquela Ave, não é qualquer ave. Nem a Pedra. qualquer pedra.

Podendo, ainda, em um passo mais projetado sobre vazios e plenitudes, se repetir a repetição de maneira a se enfatizar tanto a coisa profundamente em ente - noite, noite - e como sua transmutação - noite Noite - em Ente se dirigindo a Ser , assim:

- A pedra pedra: a Pedra. Aquele céu céu: o Céu. Naquela noite noite: A Noite, na Noite.

Que passos ainda a dar sobre esses, já dados, os deixando para trás, uma vez que cada novo passo, na Viagem a Andara, tem - Sim, o poder de confirmar e projetar sempre mais adiante a extensão a percorrer de Vazios e Plenitudes?




Sim, é essa a Voz de Andara.










7 de outubro de 2009

Cantos de Serdespanto Vicente Franz Cecim




I


DEVER DE NUTRIR AS SOMBRAS

uma construção em forma de círculo
Por que chamada a Casa da Vida?
Caminhos que dão voltas, onde não se encontra
ninguém
Ninguém
que seja alguém A Companhia
Como empalideceu o grão, aqui,
agora que caiu
para crescer da terra,
órfão de uma estrela que se apaga na chama
de uma vela
Como teme
o rugido
da noite encerrada em si mesma o animal
que adormeceu
sem resolver o enigma
Uma construção em forma de círculo
onde homens-pássaros
com asas de pedras, impedidos de voar,
perseguidos pelo vento
e a ameaça das sementes,
ouvem no ninho das coisas nascidas de coisas nascidas
um voz que recita: Isto passará
Esse é
o grão da má sorte
uma construção em forma de círculo
Em forma de homem
abraçado a si mesmo,
como dois irmãos que se quisessem bem
Frágeis como a linha do horizonte
e o murmúrio das cinzas e das fontes


DEBER DE NUTRIR LAS SOMBRAS

una construcción en forma de circulo
¿Porqué se llama Casa de la Vida?
Caminos que dan vueltas, donde no se encuentra
nadie
Nadie
que sea alguien La Compañía
Como palideció el grano, aquí,
ahora que ha caído
para crecer de la tierra,
huérfano de una estrella que se apaga en la llama
de una vela
Como teme
el rugido
de la noche encerrada en si misma el animal
que se adormeció
sin resolver el enigma
Una construcción en forma de circulo
donde hombres pájaro
con alas de piedra, impedidos para volar,
perseguidos por el viento
y la amenaza de las simientes,
oyen en el nido de las cosas nacidas de cosas nacidas
una voz que recita: Esto pasará
Este es
el grado de mala suerte
una construcción en forma de circulo
En forma de hombre
abrazado a si mismo,
como dos hermanos que se quisiesen bien
Frágiles como la línea del horizonte
y el murmullo de las cenizas y las fuentes


II

PARA ADORMECER AQUELE QUE VELA

Há montanhas em sonhos
tão antigas,
onde sonham
os grãos da areia que te sonha
O que sobrevive na hora
que apaga a última claridade?
De quem faz a Noite a vontade?
Dia ou homem,
uma túnica de rancor é o que eles vestem,
e as montanhas vêm rugir
Caladas
Se veio o Tempo,
é que é tempo de colher sob as estrelas
o centeio negro com mãos mais brancas, caiadas

PARA ADORMECER A AQUEL QUE VELA

Hay montañas en sueños
tan antiguas,
donde sueñan
los granos de la arena que te sueña
¿Qué sobrevive en la hora
que se apaga la última claridad?
¿De quién hace la Noche su deseo?
Día u hombre,
una túnica de rencor es lo que visten ellos,
y las montañas rugen
Calladas
Si veo el Tiempo,
es que es tiempo de coger bajo las estrellas
el negro centeno con manos más blancas, encaladas


III

A IMPACIÊNCIA DAS SEMENTES

O laço estava armado E o sol se pôs,
com um rumor escuro,
para que o animal conhecesse a armadilha,
para que a armadilha conhecesse o animal
Quantas vezes eu
esperei por ti, minha Sombra
e em mim nenhum passo foi dado que anunciasse a
Tua chegada
Para que haja um espírito, as florestas cantam ventos
Existe uma árvore rara
dando seu fruto à vida
E ninguém sabe porque
os sóis brotam todo dia

LA IMPACIENCIA DE LAS SIMIENTES

El lazo estaba armado Y el sol se puso,
con un rumor oscuro,
para que el animal conociese la trampa,
para que la trampa conociese al animal
Cuantas veces yo
esperé por ti, mi Sombra
y en mí no se dio ningún paso que anunciase
Tu llegada
para que exista un espíritu, las florestas cantan vientos
Existe un árbol raro
dándole su fruto a la vida
Y nadie sabe porquélos soles brotan todos los días


2 de outubro de 2009

Curso: O Ato de Criar Vicente Franz Cecim

O Método Dialético e o Caminho do Meio


















Jornal DIÁRIO DO PARÁ 29 Setembro 2009
Escritor fala do ato criativo

Após o sucesso do seminário “Paisagem Interior - Processos Criativos em Literatura & Vida”, o escritor Vicente Franz Cecim dá continuidade ao tema com a palestra “O Ato de Criar - O Método Dialético e o Caminho do Meio”. O encontro acontece amanhã, no auditório do Instituto de Artes do Pará (IAP), com entrada franca.

Em “Paisagem Interior - Processos Criativos em Literatura & Vida”, Cecim abordou a importância dos processos criativos tanto na arte quanto no cotidiano. Desta vez ele fará um panorama sobre o ato criativo das mais diversas linhas de pensamento, tanto ocidental como oriental. “Falo da criação como um todo, não só em arte, mas como ela influencia nas tomadas de decisões, nas relações humanas e na vida pública e privada. Faço a pergunta: você vive passivamente ou criativamente? Se você for criativo, tudo o que vier para você é um desafio”, diz Cecim.

Para provocar esta reflexão, Cecim divide a palestra em dois módulos: no primeiro, abordará todo o processo criativo no Ocidente, tendo como base o método grego, matriz do pensamento ocidental, passando pelos temas Parmênides e Heráclito, Dialética, a Intervenção e Alteração: a Vida como Matéria Prima da Criação e a reflexão final “A Rosa fulgurante de Tennyson & O Erva humilde de Bashô”.

No segundo módulo, o escritor abordará a criação no Oriente, abordando Lao-Tsé e Chuang-Tsé, o Tao e o Caminho do Meio, Observação e Adesão: a Vida como Fluxo e Unidade com o Criador e a reflexão final “Buda e a Figueira & Cristo e a Cruz”.



SOBRE O ESCRITOR

Vicente Franz Cecim recebeu em 1980 o prêmio Revelação de Autor da APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte e o Grande Prêmio da Crítica da APCA em 1988, nessa década atribuído também a Hilda Hilst, Cora Coralina e Mario Quintana e ganhou menção especial no Prêmio Literário Internacional Plural, no México, em 1981. É autor de 15 obras que integram o ciclo de romances “Viagem a Andara, O livro invisível”, tais como “A asa e a serpente”, “Silencioso como Paraíso” e “Ó Serdespanto”, elogiado por Eduardo Prado Coelho, um dos principais ensaístas portugueses, e eleito um dos melhores de 2001 pelo jornal O Público, de Lisboa. Seu segundo livro lançado em Portugal, em 2005, foi “K O escuro da semente”.
Vicente Franz Cecim lançou em 2008, pela editora Tessitura, seu mais recente livro, “oÓ: Desnutrir a pedra”. Nesta obra, o autor aprofunda sua demanda de uma nova escritura, mesclando palavra, silêncio da página em branco e imagem. Hoje, atua como gerente de Artes Literárias do Instituto de Artes do Pará.

SERVIÇO
Seminário “O Ato de Criar - O Método Dialético e o Caminho do Meio”, com o escritor Vicente Franz Cecim. Amanhã, das 17h às 20h, no Auditório do IAP (Praça Justo Chermont, nº 236 - Nazaré - ao lado da Basílica). Entrada franca. Informações: 4006-2909 / 2905.

Curso: Paisagem Interior Vicente Franz Cecim








Processos criativos em Literatura e Vida












Processos criativos em Literatura & Vida. O que é isso?
O seminário Paisagem Interior será ministrado pelo escritor Vicente Franz Cecim, também gerente de Artes Literárias do IAP, e abordará a seguinte questão: É possível que qualquer pessoa, não necessariamente um artista, crie seu próprio mundo interior, como um escritor cria o seu, em sua obra. E possa estruturar todo um modo de vida e de valores, para aplicá-lo em sua própria vida cotidiana?
Cecim afirma que sim. E explica: - O poder e a liberdade da Imaginação são ilimitados,e o escritor os usa para criar sua Paisagem Interior, que irá aplicar, através de seus livros, ao mundo exterior.Com isso ele reverte o padrão a que as pessoas, em geral, estão submetidas: o de serem moldadas, condicionadas, conduzidas, limitadas em sua liberdade,de fora para dentro,pelas imposições e pressões das vidas,que as cercam.
Segundo Cecim, o seminário irá examinar esses processos criativos, na arte e sua aplicação na vida – empregando um meio comum a ambos: O Imaginário – tomando por base a Literatura e as práticas do Zen, culminando no entendimento do mundo como matéria moldável, não rígida,que pode servir de matéria prima para qualquer pessoa, assim como serve ao escritor.

I – KAFKA: A Vida via Arte
Este primeiro módulo, de abertura do seminário, toma como referência o exemplo de Franz Kafka, e vai investigar como o grande escritor transformou sua vida via literatura, através dos livros que escreveu (o Processo, O Castelo, A Metaformose, O Desaparecido) e, através de sua arte, incorporou e moldou suas existência, vivendo via arte, a partir de sua célebre declaração: - Só a Literatura me interessa

II – ZEN: A Arte via Vida
O segundo módulo faz o percurso inverso. Nele, o Zen é a referência de como a arte pode ser usada para transformar a vida. Nascido do Budismo indiano mesclado ao Taoismo chinês, em vez de usar escrituras o Zen se utiliza de formas de arte para transmitir saber aplicáveis à vida cotidiana: a Poesia, a Pintura, a Arte do Arco e Flecha, da Espada, da Cerimônia do Chá.Aqui, se verá como a arte, nascida da sensibilidade subjetiva, pode guiar os passos das pessoas no mundo objetivo.

III – O VÉU DE MAYA: O Homo Ludens e as Miragens do Real
Cecim se diz consciente das dificuldades que terão que ser eliminadas, para que as Paisagens Interiores possam ser geradas por cada um, escritor ou não. Ele diz: - Certamente as pessoas se sentem inibidas diante do que chamam realidade – que se torna, na verdade, uma irrealidade ao ser confundida com Civilização, Cultura, normas, convenções, regras, punições e recompensas. Vista assim, a realidade lhes parece espessa e irredutível a qualquer submissão nascida de suas subjetividades. Se impõe a elas. Mas o criador, o artista, sabe uma coisa que o seminário deverá passar, neste seu último módulo, para obter alguma eficácia: a chamada realidade é tão real externa quanto internamente. Na verdade, é, sempre, a realidade interior de cada um que vai ao encontro da exterior, coletiva. Por fora, o mundo é representação que o homem faz do mundo, como o artistas representa um mundo em sua obra. Assim entendida, como uma projeção de ilusões, que os Vedas chamavam de Véu de Maya, começa a ser vista a possibilidade de moldá-la de dentro para fora. Mas quem fará isso? Ali onde falhou o Homo Faber, que apenas formatou o mundo, e falhou também o Homo Saphien, que até agora tem tentado uma compreensão da Vida que permanece inatingível, deve emergir um terceiro estágio humano, evolutivo no sentido de atingir cada vez mais uma liberdade, não domada, mas domante: o Homo Ludens. Aquele que sabe a vida como jogo e se sabe jogado. Com um pé no real, outro no sonho e um terceiro, o mais importante, na liberdade da criança – é nele que se deposita a esperança da realização de uma Arte de Viver, ao vivo,gerada no interior de cada um, como um mundo de romance se gera interior do verdadeiro escritor e sai para o mundo com autonomia sobre a realidade ao nosso redor.

16 de setembro de 2009

Mas o que é Andara?

Vicente Franz Cecim


Esta pergunta sempre retorna retornando sempre outras respostas.


Andara, o que ela parece mais querer, é o Advento de uma Literatura Fantasma. Fantasma como são os seres de Neblina que a percorrem. Mas ainda mais sutil que eles. Andara, os livros escritos, os livros visíveis de Andara, ainda pudessem ser lidos por quem assim quiser, ou não puder mais que isso, como Literatura Fantástica. Mas o Livro Invisível de Andara, aquele que não-é escrito, aquele que já é não-livro, esse: Isso, já é Literatura Fantasma. Literatura de Ausência. Está para a Literatura como os números trans-finitos de Georg Cantor, talvez eu pudesse comparar, que se iniciam ali, seja Onde isso for, onde os números finitos se acabam. Literatura Fantasma é Literatura de Ausência de Literatura. De Ausência até mesmo da Presença Rarefeita da Escritura, por mais rarefeita que ela seja. Está num além em nós. Nietzsche perguntando pela voz de Zaratustra: - O homem é coisa ultrapassável, o que fizeste para ultrapassar o homem, o que fizeste para atingir o Além do Homem? Pois ele nunca falou em Super-Homem, isso foi manipulação do Nazismo: über mensh, ele disse, e isso é dizer: Além do Homem. Mas essa é uma visão ocidental, a visão ocidental de Nietzsche. Andara se desampara é no Tao. Andara quisesse fosse as Outras três partes do discurso que se mantém secretas, não são postas em movimento, mencionadas pelo Hino do Rig Veda, que diz que só conhecemos a quarta, que é a língua dos homens. Andara não busca nada assim, como neste trecho de Nietzsche, com um sentido único de Ida: Andara busca, no homem, tanto o umanoh quanto o umano, tanto o além quanto o aquém do homem. Evocando Flaubert e Madame Bovary, uma vez eu disse, também: - Andara sou eu. De uma certa forma, sim. Mas há uma definição melhor de Andara por Cervantes. Está lá, na abertura daquele seu belo, sobrenaturalmente Belo, Os trabalhos de Persiles e Sigismunda, obra que comovidamente ele terminou em seu leito de morte, morrendo - mas em vez de Morte ou prefira a palavra Metamorfose, e escrevendo a última página e se despedindo do Leitor e informando que estava terminando naquele ponto o livro porque o Livro da sua vida estava, naquele exato momento, também fechando as suas páginas visíveis. Aquela Voz é Andara. O livro de Cervantes começa com uma voz gritando do fundo da Terra, se lançando para superfície, para o Alto e para a Luz, para fora da Escuridão em que se encontra aquele que depois viremos a saber que era Persiles encerrado numa Masmorra no subsolo. Mas no início, só o que sabemos é que é uma Voz e, depois, ficamos sabendo que é Voz Humana. Lembremos Heidegger dizendo que os outros seres tem voz, o homem, além da voz, tem linguagem. A Literatura é essa Voz que se lança do Escuro. Essa Voz que busca ascender da Escuridão é a Literatura buscando ascender no claro-escuro da Escritura. É a Voz da Escritura querendo ascender para o Além do claro-escuro da Escritura. É também a vozinha débil dos livros visíveis de Escritura de Andara já querendo é o AlémAquém da Escritura, no Livro Invisível de Andara. Essa Voz é a Voz Não-Voz do Livro Invisível de Andara. Essa não-Voz, ela é que é a Voz não-voz essencial de Andara. E parece que a única que lhe interessa. Trans-silêncio. As páginas antes cobertas pelos Signos da Palavra buscando o em-branco da Ausência de Palavras.

14 de setembro de 2009

Asa no Ar

Vicente Franz Cecim





















Exalado pelo Alento: por que veio o Homem de Vento
Inalado pelo Alento, para Onde voltará?


E a O Que Quem pergunta
aqui
na Breve Residência

onde é
Asa de Sombra



dO sido
e
dO não será


1000 Castelos




Jesus Sombra


Por que certas coisas querem existir insistentemente, se manifestando sob várias formas, variantes? Castelo: há os de areia, o de Kafka, o de Kubla Khan primeiro como construção de pedra inacabada e depois como poema inacabado do Coleridge. Por aí haja alguém indício da Causa oculta de nós que faz haver o castelo de cartas, faz haver os castelos medievais com seus fossos e crocodilos e ponte levadiça ao redor, e os castelos dos contos de fadas. Então, é uma Forma que não se basta em si – nUma só – e se metamorfoseia constantemente para se afirmar mais abrangentemente, constante, persistente. Ela também gosta de brincar de trocar de identidade aparente, preservando sua Identidade de Castelo, porém. E assim vai nos cercando por todos os lados, os lados internos e os lados externos do homem. Seria porque a Idéia de Castelo - Platão – é migratória, e migra da pedra para a palavra - e o castelo que Kubla Khan começa a construir e deixa inacabado prossegue sua Outra realidade em outra substância, mantendo semelhança na sua, digamos, Natureza, um pouco do seu aspecto, mas não no seu material, e surge da pedra nas palavras no poema de Coleridge. Borges comenta essa migração em 7 Noites, se lembro. Porque o Castelo de Kubla Khan inacabado continuou inacabado no poema inacabado de Coleridge. Então, Borges diz que é Algo – oh, não se sabe O que? - que está, ainda, tentando vir a ser. Sob a forma de um Castelo. Mas o que será? Borges esqueceu que talvez Isso já tenha conseguido se tornar, ser, na forma do Castelo de Kafka. Nem mencionou. Mas se entende Borges, quando se considerada que Kafka não quis refazer, completar, o Castelo de Kubla Khan, quem quis foi Coleridge, que sonhou o Poema do Castelo, o castelo em forma de poema, ou Poema Castelo. Uma história cheia de Veredas que se bifurcam, do jeito que o Borges gostava de brincar. Borges não tem nada a ver com Kafka - K é existencial e mental - B é mental todo tempo - mas Borges não seria possível se não tivesse sabido da existência de alguém, antes, que foi Kafka. Eu acho. K diz que deve bastante a Dickens, que quis escrever O Desaparecido meio do jeito de David Coperfield. Bem, Dickens antecipa Kafka, bastante, no seu romance mais abrangente: Break House/Casa Quebrada, chamado aqui A Casa Sorturna - onde aparecem fundidos O Processo e o Castelo. É muito = a narração de um processo infinito numa imensa construção, esmagadora, centralizadora da Lei - o Tribunal de Londres. E na Casa Soturna, como em Kafka, a Lei é também uma Farsa. Só que em Dickens é a vida dos personagens que se torna absurda, pela corrupção e ineficácia da Lei, e em Kafka todo o Universo é destituído de um sentido reconhecível prosaicamente, e submersa todos – a Lei, K, a Vida – num Delírio sem tréguas. Melville também antecipa Kafka, mas enquanto Dickens antecipa em fabulação, Melville antecipa em personagem - Bartleby foi K antes de K - e continua sendo após K - de certa maneira Bartleby é mais que K porque é uma mistura de K com Odradeck.

Eu já brinquei de escrever um falso Kafka – só porque estava com saudade dele, e nunca conversei com ele, nunca passamos um segundo juntos andando nas ruas de Praga. Então, eu escrevi uma história como se fosse Kafka – apenas para ter ele por perto de mim.

Um dia, quem sabe, farei ela aparecer aqui. JS

Se o Adormecido leva um Gesto aos lábios


Vicente Franz Cecim




não Falar

para não nascer do Seu Ouvido
em Rumor O


não dito, lentamente não



Ouvir

para não nascer no meu ouvido
em Ramagens A


não dita, lentamente não



para não assustar as Ramagens do Rumor

indo e vindo


entre Nós




13 de setembro de 2009

KinemAndara


É assim que Cecim passa do romance ao filme

Pedro Veriano





Vicente Franz Cecim voltou a filmar. Seus dvds “Fonte dos que Dormem” e “A Lua é o Sol” trazem peculiaridades não encontradas em nenhum exemplo de cinema. Não vejo nada semelhante nem mesmo nos clássicos surrealistas. Citando que são “Kinemandara”, ou seja, Cinema de Andara, a terra do intimo do autor, mais do que uma Shangri-ka ou Passárgada, ele tenta se expor da forma que lhe chegam as idéias. O máximo que se pode concluir de uma temática é a frase que pesca de Franz Kafka: “Por impaciência perdemos o paraíso”, e, a seguir, “por impaciência não voltamos ao paraíso”. Escrevendo as frases, “A Lua é o Sol” pontua com uma visão panorâmica da cidade atrás de grades. Em seguida, em stopmotion, pessoas andando para uma parada de ônibus em uma praça. Não se queira identificar coisa alguma, embora se possa. As “silhuetas na paisagem” evocam o que disse Joseph Losey. E os filmes divagam por imagens paradas que devem dizer a Cecim muito de sua sensibilidade exuberante.
O cinema introspectivo é aquilo que Jean Cocteau falou: aquele em que a câmera faz a vez de uma caneta. Na época de Cocteau isso era um recurso poético. Hoje é real, com as minúsculas gravadoras digitais cumprindo roteiros imaginados diretamente para elas, sem passar pelo papel.
Em “Fonte dos que Dormem” há longos travellings pela mata, tomados de um automóvel em movimento. É crepúsculo (ou aurora). O papel do sol pequeno (poente ou nascente) persegue o autor. A lua parece um sol ou ele a ela nas primeiras cenas de “A Lua é o Sol”. Até que a luz difusa ilumine toda a tela e nada mais deixe que se veja.
Também há signos, como uma bola azul, correntes, gravuras que sugerem o paraíso perdido ou um inferno alcançado. Mas ninguém deva discernir o que há de material na obra de Cecim. Ele precisava do cinema para prosseguir a sua experiência literária. E adentra na poesia das imagens com intercessões de palavras. A força dessas palavras não precisa ser ilustrada sob ou sobre. Tudo é a casa do ego, ou a fonte do id, ou a alma de um poeta que tenta emergir do corpo. Se a gente se impacienta com o que vê, nada mais natural. Perdemos o paraíso e não temos força para voltar.A impaciência embota a percepção do outro e as pessoas, que não são iguais, não tentam se comunicar inteiramente. É assim que Cecim passa do romance ao filme/disco. Um criador que se completa.


Mostra KinemAndara
A Lua é o Sol & Fonte dos que dormem
Vicente Franz Cecim

Cine Líbero Luxardo
11/12/13 de setembro de 2009, 17horas.

Par ler ampliando II Terra da sombra e do não





























Para ler ampliando I A asa e a serpente































11 de setembro de 2009

Te-shan








- Como a forma e a imagem se encaram em um espelho brilhante, tu não és o refleto, mas o reflexo és tu