16 de junho de 2009

Novos Rumos da Literatura Brasileira

Jorge Henrique Bastos

Camões
Revista de Letras e Culturas Lusófonas

Número 1. Abril/junho de 1998


O autor analisa a situação da literatura brasileira dos anos oitenta, no ambiente posterior ao fim da ditadura e à instauração do regime democrático. A conjuntura política influíra de forma determinante nos géneros e nas temáticas escolhidas pelos escritores, do memorialismo à autobiografia muito marcadas por objectivos de intervenção política e social. Do ponto de vista estético, porém, o período define-se por uma grande diversidade de estilos , sem uma linha homogeneizadora, traço que se prolongará pela década de noventa. Nomes como Moacyr Sciliar, Haroldo Maranhão ou Rubem Fonseca continuam a surpreender e a merecer o aplauso da crítica.

Nos últimos anos, assistiu-se ao brotar de novos talentos que dominam hoje o panorama literário brasileiro. "O que pode unir nomes tão distintos como Marilene Felinto, Vicente Franz Cecim, Patrícia Melo, Carlos Nascimento da Silva, ou Bernardo de Carvalho? Creio que a procura de uma dicção singular assumida por cada autor é o que mais se evidencia. O conjunto de vozes não sintetiza a situação actual, na verdade provoca a cisão interior da expressividade fragmentando-a, e em simultâneo, consolida a realidade traduzida individualmente."

As temáticas abordadas por estes autores traduzem a diversidade dos estilos e percursos de escrita, da exploração da angústia interior em Marilene Felinto, aos ambientes quase policiais de Patrícia Melo e Bernardo de Carvalho, ou à pesquisa histórica de Carlos Nascimento da Silva.

Vicente Franz Cecim * representa a realidade trangressora, aquela que permite abolir os limites e encarnar valores revolucionários, produzindo efeitos permanentes. "Através das palavras de Cecim, o homem e a literatura assumem a renovação a inaugurar o anúncio de novos mundos erguidos sob o poder da verdadeira criação."


* Obras de Vicente Franz Cecim editadas em Portugal: Ó Serdespanto (Íman, Lisboa, 2001) e K O escuro da semente (Ver o Verso, Maia, 2005).